Juventude, o poema a que me refiro, é encantador desde a construção, a brincadeira com as palavras derivadas de mar passeando pelo auge, no início “a jusante a maré entrega tudo”, até o término, “a montante a maré apaga tudo”. Mais que isso, a fascinante continuidade na descontinuidade e o movimento ondulatório do poema, como diz Benedito Nunes, nos prende em suas delicadas variações. Percorrê-lo é ver a juventude esvair-se por entre ele, como a sensação que tive ao escrever aquelas linhas, claro que eu muito mais irrequieta e inconformada. Enfim, não vou me prolongar hoje, transcrevo aqui o belissimo fragmento de que falei até então.
...
Juventude —
a jusante a maré entrega tudo —
maravilha do vento soprando sobre a maravilha
de estar vivo e capaz de sentir
maravilhas no vento —
amar a ilha, amar o vento, amar o sopro, o rasto
maravilha de estar ensimesmado
(a maravilha: vivo!),
tragado pelo vento, recomposto
nos pósteros do tempo, assassinado
na pletora do vento
maravilha de ser capaz,
maravilha de estar a postos,
maravilha de em paz sentir
maravilhas no vento
e pascentar o vento,
encapelado vento —
mar à vista da ilha,
eternidade à vista
do tempo —
o tempo: sempre o sopro
etéreo sobre os pagos, sobre as régias do vento,
do montuoso vento —
e a terna idade amarga — juventude —
êxtase ao vivo, erguer-se o vento lívido
vento salgado, paz de sentinela
maravulhada à vista
de si mesma nas algas
do tumultuoso vento,
de seus restos na mágoa
do tumulário tempo,
de seu pranto nas águas do mar justo —
maravilha de estar assimilado
pelo vento repleto
e pelo mar completo — juventude
a montante a maré apaga tudo —
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