terça-feira, novembro 07, 2006

Respondendo aos comentários...

É bom poder responder aos comentários que fazem por aqui. Sinceramente pensei que esse seria o meu cantinho e de alguns amigos pra quem eu falasse sobre essa existência maldita (como diziam os simbolistas). Mas que bom que existem pessoas que lêem, e melhor ainda, que gostam.
Escrever, ou sentir vontade disso, porque vontade não quer dizer habilidade, é se expor, e no meu caso, é se despir. Flaubert dizia: "estou em cada linha do que escrevo". Daí a relutância, mas enfim coragem de mostrar tudo o que eu vinha escondendo há tempo e de também mostrar o que gosto de ler. Minhas leituras acabam me influenciando, com outras, acabo me identificando.
Sempre amei Álvares de Azevedo, sempre me senti com pelo menos uma pitada de ultra-romantismo. Já havia lido esse poema inteiro (Glória moribunda), entretanto, nunca havia atentado tanto pra ele. Só percebi quando tive de estudar pra uma prova e era exatamente esse o trecho que o teórico havia selecionado. E como já faz algum tempo que não escrevo nada, até por causa de todo esse caos constante da vida e das situações vividas ultimamente, me identifiquei de imediato.
Se a dúvida era quanto a representatividade, posso dizer que ele é o espelho plano dos meus desvarios e devaneios.
Adoro poder ter esse diálogo e fiquei extremamente curiosa pra sobre esse anônimo "Espelho".
Já que falei a respeito das minhas leituras, então, aí vai um poema que gosto muito de um dos meus poetas preferidos.

O INIMIGO
(Baudelaire)

Foi minha juventude um vendaval aziago,
em que os brilhantes sóis surgiram raramente;
nela a chuva e o trovão fizeram tal estrago,
que neste meu jardim raro é o fruto rubente.

Eis-me enfim a arribar no outono das idéias
e é preciso empregar pá e ancinho e os acúmulos
da terra unir de novo, uma vez que, entre aléias,
a água poças abriu, enormes como túmulos.

E quem sabe se a flor por que esta alma desmaia
há de achar neste chão lavado como a praia
o alimento de avigorar-nos sói?

Devora o Tempo a Vida, ó suprema agonia!
E o inimigo fatal que o peito nos corrói!
Cresce por se nutrir desta nossa anemia!


domingo, novembro 05, 2006

"Amantes que sonhei, que eu amaria
com todo o fogo juvenil que ainda
me abrasa o coração, por que fugistes,
brancas sombras, do céu das esperanças?"
(Glória moribunda - Álvares de Azevedo)