segunda-feira, agosto 30, 2010

Meu tímido luto


Perder alguém é sempre algo muito triste. O que dizer num momento desses? Tivemos tão poucos momentos juntos, esses poucos tão perfeitos, uma única semana. Lembro bem, agosto de 2006, eu tava no terceiro ano da graduação, mil planos na cabeça, muitas das experiências mais loucas já realizadas (ENEL, o que mais posso dizer?), quando re-conheci aquele senhorzinho que me acolheu tão bem em sua casa, porque eu não conseguia suportar o frio de Brasília alojada numa sala de aula da UnB. Ele prontamente me acolheu, foi meu guia e, aos poucos, meu melhor amigo naquele lugar.
Tudo o que eu sabia até então é que ele era irmão do meu avô, alguém de quem minha avó falava muito bem, só um parente distante, depois percebi que ele tinha a voz parecida com a do vovô, uns costumes muito parecidos com os do papai, mas bem mais refinado que os dois juntos. Lia tanto... Nos identificamos de imediato, quantas conversas! Aquele jeito de tentar me convencer que queria ter a paixão por poesia que eu tinha, que queria saber ler como eu, quem me dera ter tanto conhecimento. Nunca vou esquecer, foi a primeira vez que não me senti uma alienígena na minha família. Isso mesmo, sempre fui a diferente, com opiniões e comportamentos estranhos e quando tinha me acostumado a isso, conheci alguém tão parecido comigo na liberdade de pensamento. E as provocações? Ele não conseguia entender como eu conseguia ser evangélica com a cabeça que tenho (como muitos outros, aliás), eu e meus pensamentos loucos.

Lembro que depois de um porre ridículo no ônibus, ele queria outro, mas de rum com sorvete, pode? Queria que eu começasse a falar a verdade, que verdade? Existe verdade? Ele riu. Nos confidenciamos, rimos, choramos, é, choramos algumas vezes, a última, timidamente na partida, tiramos fotos que nunca foram reveladas, trocamos e-mails curtos, esparsos, nunca mais. Eu queria revê-lo. Ele viria a Belém, foi o que disse ano passado. Eu iria a Brasília, começo do ano que vem, estava nos planos. Até que por esses dias chegou a notícia, internado, coma, falecimento.
Hoje não derramei nenhuma lágrima, mas o coração tá tão apertado, tão dolorido. Com aqueles pensamentos que batem sempre, de como poderia ter feito mais coisas, ter dito mais coisas, não deu tempo, não me esforçei talvez, cada um seguiu a sua vida distante. Inevitável. E agora? Só posso lamentar a perda, lamentar a distância, guardar as doces lembranças com saudade. Faltava tão pouco e só Deus sabe porque esses poucos meses deveriam nos separar. Eu só sei que dói, apenas uma semana e todo esse estrago. Depois de 4 anos não pude esquecê-lo, é como se tivemos nos despedido ontem, sem saber que nunca mais nos veriamos, dissemos um tímido tchau, certos de nos reencontrar, mesmo que depois de muito tempo. Ele garantiu que dificilmente viria a Belém, mas eu garanti que certamente voltaria a Brasilia. E vou voltar, mas infelizmente, não vou mais vê-lo.
Por favor, não me analise
Não fique procurando
cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise
profunda, quanto mais eu!
Ciumenta, exigente, insegura, carente
toda cheia de marcas que a vida deixou:
Veja em cada exigência
um grito de carência,
um pedido de amor!

Amor, amor é síntese,
uma integração de dados:
não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
(ninguém abraça um pedaço),
me envolva toda em seus braços
E eu serei perfeita, amor!
(Mirthes Martins)

domingo, agosto 29, 2010

Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua.
(Martha Medeiros)

quinta-feira, agosto 26, 2010

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...

(Mário de Andrade)

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

sexta-feira, agosto 20, 2010

O tempo

(Mario Quintana)
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Perfil do orkut aos 23

Depois dos 20, cansei do pessimismo melancólico da adolescência e aprendi a ver flores pelo caminho, mesmo quando elas não floresceram pra mim. Depois da depressão, cansei de sofrer pelo que os outros me fizeram e aprendi a ignorar quem me faz mal, eu sempre me levanto, não vou mais baixar a cabeça. Depois das aventuras, cansei da adrenalina de alguns minutos, do impulso voluptuoso de uma noite efêmera e aprendi a me apaixonar, a me dividir, a perdoar mesmo quando isso doeu mais do que eu pudesse suportar, afinal, ser feliz é uma atitude, é mais que pensamento ou simples vontade. O que eu conquistei, onde eu cheguei, meus sonhos... ninguém pode me tirar nada disso. Se cair me levanto; se doer, logo sara; me construí com meus risos e minhas lágrimas, amadureci. Agora ser feliz é tudo que me importa. Já dizia Fernando Pessoa: Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.

Tudo bem

Já não tenho dedos pra contar
De quantos barrancos despenquei
E quantas pedras me atiraram
E quantas atirei
Tanta farpa, tanta mentira
Tanta falta do que dizer
Nem sempre é so easy se viver
Hoje não consigo mais me lembrar
De quantas janelas me atirei
E quanto rastro de incompreensão
Eu já deixei
Tantos bons, quantos maus motivos
Tantas vezes desilusão
Quase nunca a vida é um balão
Mas o teu amor [ainda] me cura
De uma loucura qualquer
Encostar no teu peito
E se isso for algum defeito por mim
Tudo bem
(Ana Carolina)

segunda-feira, agosto 16, 2010

Relembrando parte das férias

Momentos maravilhosos merecem lindos poemas, não posso esquecer dos momentos que passei em Soure. Que saudade! Eu estava encantada a cada passo e não poderia duvidar nem por um segundo daquele amor que era só meu, tão perfeito, A mágoa parecia ficar de lado, embora volta e meia parecesse despontar, eu quero esquecer, quero acreditar que vai dar certo, quero continuar naquele olhar.

A noite na ilha
Pablo Neruda
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.


quarta-feira, agosto 11, 2010

As sem razões do amor

(Carlos Drummond de Andrade)
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.