segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo. 

(Pablo Neruda)

domingo, fevereiro 16, 2014

Ele venceu... mais uma vez

Eu estava pronta pra qualquer coisa. Esperava ser trocada, ser abandonada, ouvir desaforos, grosserias... Pra ser eufêmica, esperava a frieza que conheci tão bem ano passado. Podia não ser fácil, mas não seria a primeira vez, se me negocio por um pouco de atenção, tenho que aguentar as consequências. Então fiquei assim, atenta, quieta. Só via as consequências e pensei em como suportá-las. Daí, ele superou todas as expectativas, disse a única coisa que eu se quer conjecturava nos meus sonhos mais etilicamente utópicos, me disse que estava apaixonado.
Como? Tá brincando comigo?
Fiquei sem reação. 
Estou sem reação. 
Ele faz e diz o que gosto, é tentadoramente poético, masculamente satisfatório, atende e supera as mínimas exigências. O que mais quer de mim? Já me tem monogâmica e integralmente, não é o bastante?
É. Não basta me ver gemer, precisa me fazer suspirar.
Eu já te disse como sou fácil, o resto você leu nos meus olhos, sentiu na minha pele. O que espera que eu faça agora?
Eu não sei o que esperar de mim agora. Só planejo continuar afundada no trabalho, tentando dar conta de fazer o necessário e esperar por ele. Como sempre.

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Desvarios

Ontem, resolvi olhar a grade de disciplinas deste semestre. Muda, a primeira vontade foi jogar tudo pro alto. Àquela hora, com trocentas redações na minha frente pra hoje de manhã, depois de ter faltado o trabalho à tarde pra corrigir o máximo que pudesse e estar tentando reservar alguma energia pra trabalhar a noite inteira, sabendo que a madrugada seria longa e o dia posterior mais longo ainda... tudo passou num flash. Como, meu Deus? Eu preciso dormir. Nem começou ainda. E os horários? Passados alguns segundos, veio a razão, não dá pra fugir. Foi a vez do choro. Fui invadida por uma vontade violenta de chorar, chorar muito até desidratar. Antes que caísse a primeira lágrima, na verdade, antes que ela se formasse nos meus olhos, simplesmente me recusei. Não vou chorar. Não dessa vez.
Como? Ainda assim, nada estava resolvido e me fazer de forte não muda nada.
Cada coisa por vez. 
Às 5 da manhã, o sono ainda não vinha. Consegui terminar as redações, mas tem a autoescola logo cedo, as correções no horário do almoço e as aulas em outras duas escolas no outro lado do mundo até o final da noite. Por que o sono me abandona nessas horas? Preciso descansar. De volta àquelas confusas madrugadas semidormentes, sonhando, como num estalo, acordo, só se passaram alguns poucos minutos e eu me pergunto, sonhei? Minha mente repassou os fatos? Aconteceu? Não dá. 
Eu preciso dormir. 
Só quero um sonho tranquilo que me embale nesses instantes antes do dia amanhecer. Só quero esquecer por enquanto. Não aguento mais.
O dia amanheceu, transcorreu tão rápido, o sono não pesou, o cansaço não pesou, a fome... que fome? Esqueci de comer. O dia voou.
Preciso parar às vezes. São esses minutos de desespero que mudam tudo, eu poderia ter feito milhões de coisas, aliás, não faz muitos dias precisei segurar as mãos, a minha direita conheceu muito bem a sensação de segurar a lâmina, já tem habilidade, não é tão difícil, não dói. Bastam alguns segundos, minutos facilmente prolongáveis. Estancar o sangue. Cortar de novo... 
Não dessa vez. 
Não preciso ver meu sangue pra me sentir viva. Não posso.
Não dessa vez.
O dia passou.
Passou, outros virão. Senti um orgulho tolo, mas tão satisfatório, passou. Eu consigo. Eu aguento. Não sei bem como e por que o como importa tanto? Só preciso aguentar, dias melhores virão, a qualquer momento. Não sei quando. Não sei ser otimista. Só preciso acreditar. 
Como uma cética pode acreditar assim? Como uma pessimista pode acreditar em dias melhores? Não sei, mas vou descobrir.
É quando estou só que o vazio dentro de mim mostra sua face mais monstruosa e amarga.

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Incoerências cotidianas

E como se já não fosse suficiente, a pessoa não apenas se vê carente, como também precisa importunar a criatura pra escancarar isso. Pra quê, meu Deus? Não tenho tempo nem pra dormir, pra quê mexer? Tantos outros em volta, agora mesmo até, mas não, tem que ser aquele, justo ele. A velhice me trouxe a maldita monogamia ou o cansaço me deixou preguiçosamente sem saída? Ou melhor, por que eu não tomo vergonha na cara e engulo a carência sozinha? Não é nenhuma novidade afinal. 
É, algumas coisas não mudam mesmo.

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Do desejo

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

(Do desejo, Hilda Hilst - 1992)

Retrocesso

Voltando às origens: frieza, indiferença, vazio...
Ninguém me incomoda, ninguém é único, todos são substituíveis e têm data de validade. Medíocre? É. Não me importa. 
Ainda quer sair pra brincar?