segunda-feira, outubro 29, 2007

Amanhã

Que me importa ouvir o que os outros dizem de ti, se eu sei que amanhã o teu sorriso vai florescer pra mim novamente. Que me importa o que dizem, se mesmo sabendo que é tudo verdade, tu sempre retorna pros meus braços. Que falem, pouco me importa. Que me chamem de tola ou coisa pior. Competir tem sua graça, eu sei bem.
Sei bem que amanhã tudo se acalma, que as tuas mentiras tão óbvias vão me acalentar, me deixar mais feliz pro resto do dia, ou pro resto da semana, ou pra um dia qualquer, arbitrariamente escolhido por ti. Que seja esse então o melhor de todos os meus dias e mesmo efêmero, que seja completo. Que comporte a imensidão do meu desejo na compleição do teu corpo e da volúpia transida, que se crie a necessidade insaciável do reencontro.

sábado, outubro 20, 2007

Não sei se é amor que tens

Não sei se é amor que tens, ou amor que finges,
O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta.
(...)
Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.
Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva
É verdadeira. Aceito,
Cerro olhos: é bastante.
Que mais quero?
(Ricardo Reis)

terça-feira, outubro 02, 2007

Eu acho que devia entrar no lago, mas não posso. Eu ainda não estou pronta. Oh, que desespero! Esse coração que nada acalma. Em tudo que eu quis ser, eu sou só a metade. Nem amar eu posso. É tudo vaidade. Eu ouço o que você me diz, não estou surda, tenho ouvidos, mas o que é que isso quer dizer? Pode ser que eu esteja dormindo e que ninguém vá me acordar, e pode ser que eu seja dessas que fazem um mal negócio, só para ter um teto em cima da cabeça. E pode ser que eu engane a mim mesma e feche os olhos.
(Bertolt Brecht - Na selva das cidades)