quinta-feira, maio 10, 2007

Desabafo noturno


Eu, agora - que desfecho!

Já nem penso mais em ti...

Mas será que nunca deixo

De lembrar que te esqueci?

(Mário Quintana)


Eu poderia escolher não lembrar de ti. Eu poderia querer te enterrar em mim, como a tantos outros melhores que vieram e fizeram mais festa em meu ser, mas que invariavelmente foram para o cemitério da minha alma, cada um com um túmulo sóbrio e uma lápide de dizeres bem elaborados, afinal meus bons momentos são todos cuidadosamente guardados. Eu poderia ter dito não, mas que tola que eu sou, ainda não aprendi a dizer não. Ainda sou a mesma menina frágil que há pouco tentou desvencilhar suas asas. Abandonando a escuridão tão característica, abri minhas asas coloridas, um tanto obscuras é verdade, entretanto já mescladas de vida. Elas inda não perderam o tom pueril.
Eu realmente poderia ter feito milhões de coisas, ter fechado as portas, ter parecido menos fútil, ter dito mais e ao mesmo tempo menos, ou simplesmente ter ido dormir e não ter tentado desabafar com um teclado e um monitor durante a madrugada. Poderia, poderia, poderia... Tudo inútil. Que adianta tentar provar para mim mesma que eu não me importo, que estou totalmente sob controle, que não há vínculos. Parece-me estar mais do que provado, tentar esquecer me faz te lembrar. E essa agora, não perdi o sono, não se dê ao luxo de pensar ter feito tanto estrago. Desculpe, já ia esquecendo, não destroes, constroes. Seja feita a sua vontade então, como sempre. Não por obrigação, claro, mas porque isso me agrada e dessa parte já sabes, melhor que eu talvez. Lestes-me as linhas e as entrelinhas e sabes perfeitamente o quanto me agrada agradá-lo.
Pobre criatura confusa, se pensa esfinge, mas acaba por ser devorada.