quarta-feira, junho 11, 2008

Algumas reflexões pós-tragédia

191. "O sacrifício da vida pessoal no altar do ideal sagrado" é apenas uma desesperada adesão aos ideais quando a vida pessoal morre.
200. Em outras palavras: com a morte da alma o cadáver ambulante trasforma-se num ser totalmente público.
(Caixa preta - Amós Oz)

sexta-feira, junho 06, 2008

"Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"

terça-feira, junho 03, 2008

Nada

Olhares brevemente trocados. Expressões por pura polidez, frias e distantes. Eis a situação atual. Novo jogo? Os tempos de outrora foram apagados. Suas expressões paracem-me indecifráveis. Eu prendi todos os olhares como o esperado, menos um, o único que me importava, o único que não se importava. Depois de todo esmero do creme nos cabelos, do perfume nos pontos estratégicos de circulação, da escolha meticulosa das bijuterias, do vestido sensual e discreta... nada.

Ele andava ao meu redor, distância de alguns pequenos passos. Eu, sentada, de cabeça baixa e aparentemente concentradíssima na íntima tinta vermelha sobre os garranchos a minha frente, ouvia cuidadosa o som da mesma voz que tantas vezes passeou em meus ouvidos enquanto brincava com o meu sorriso, arrepiando pele, poros e pensamentos. A mesma voz, mas em tom distinto. Dirigida a mim, a voz era mais grave, mais máscula, mais obscena. Agora tão distante, o som é quase irreconhecível. Oi! É tudo o que tem a me dizer? O costumeiro beijo na testa e de volta ao trabalho.

Eu voei baixo naquela cadeira desconfortável, naquele espaço opressivo que eu suporto por questões de sobrevivência. Por instinto eu voei, eu fugi daquelas palavras confusas dos papéis dispersos na mesa, tentando em vão achar qualquer pista despejada naqueles míseros segundos precedentes. Nada.

Nada ao redor, em volta ou dentro de mim. O barulho de vozes dissonantes se espalha, meus olhos parecem despertar. É ele. É ele novamente, tentando roubar minha atenção mesmo não se dirigindo a mim, eu o conheço. Desmotivada volto os olhos para os papéis, nem o vi ir. Deixa pra lá. Coloquei minha capa obscura de gelo, me cobri de solidão e continuei a tarefa de esquecê-lo, mas como dizia meu sábio provérbio: esquecer é o esforço vão de tentar apagar as lembranças tatuadas na alma.

Só mais alguns minutos e a tortura acaba.

Tô indo embora. Eu o vi virar as costas, fechar a porta e me esquecer.

É tudo que restou, nada...