quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Cantiga do sem-nome e de partidas


Hilda Hist

VII

Rios de rumor: meu peito te dizendo adeus.
Aldeia é o que sou. Aldeã de conceitos
Porque me fiz tanto de ressentimentos
Que o melhor é partir. E te mandar escritos.
Rios de rumor no peito: que te viram subir
A colina de alfafas, sem éguas e sem cabras
Mas com a mulher, aquela,
Que sempre diante dela me soube tão pequena.
Sabenças? Esqueci-as. Livros? Perdi-os.
Perdi-me tanto em ti
Que quando estou contigo não sou vista
E quando estás comigo vêem aquela.
Às vezes, acho que preciso me estapear pra ver se paro com este mal hábito. Tem horas que é só deixar pra lá. Assim como veio, vai. C'est la vie!

terça-feira, fevereiro 26, 2013

Queria muito poder compartilhar minha felicidade com ele, mas... Escolhas erradas novamente! Deus sabe o que faz.

E-mail de desabafo

     ...
   Resolvi escrever porque acho que consigo me expressar um pouco melhor assim, melhor até do que quando somente falo, mas resolvi fazê-lo, sobretudo, porque queria dizer isso agora, não mais tarde quando não estivesses mais com ela ou em outro momento em que tivesses tempo. Impulso? Talvez, porque não sei se diria o mesmo depois, se quer sei se teria vontade de dizer algo depois. 
  Na verdade, não sei por onde começar, mas como preciso dizer algo, bem, não sei se te importa, mas acabei de tomar café da manhã e foi uma sensação indescritível. Tomar café com leite e comer pão com manteiga... sinceramente, não lembro da última vez em que fiz isso. Confesso que foi mais incômodo que prazeroso, mas quer saber, eu o fiz, ninguém me pediu, só achei que me faria bem e isso é tudo que quero agora, ficar bem. Aliás, tenho pensado tanto nisso. Como ficar bem? Como encontrar algum contentamento diante de todos os últimos estremecimentos involuntários. 
  Tu tens sido um algo involuntário (digo algo, porque como falava antes, ainda não encontrei um adjetivo pra te descrever), alguém que não esperava, não só porque, de fato, não esperava por ninguém, mas também por ter causado tantas mudanças aqui dentro. Quantos planos? Quantas expectativas? Lançaste alguma coisa que me deu vontade de viver novamente, de me sentir viva, não só por ti, por mim. Percebi que ainda estou viva, só precisava despertar algo que já estava dentro de mim. Quanto a isso, podes até sentir um pouco de arrogância, porque fizeste parte dessa mudança.
  Foi essa percepção que me trouxe a tranquilidade de comer, dormir, planejar o que vou fazer hoje, algo simples pra qualquer ser humano normal, nem tanto pra mim, como sabes. Ontem, me peguei pensando, ele está com ela, ele demanda mais tempo a ela que a mim. Isso me mostra o interesse. Não porque, como disseste, eu não tenha tempo. O tempo é tão relativo, querido. O tempo que passas com ela poderia ser comigo, na prática, tenho as noites e as manhãs livres, não é o mesmo tempo? Enfim, não vou questionar, não era esse objetivo. Falei nisso pra te dizer da surpresa que me causou o fato de me perceber tranquila. à noite, peguei meu violão, tentei arranhar algumas coisas, fazer o que mais amo neste mundo, cantar; li um pouco, fiz minhas orações e sozinha tive uma epifania, constatei algo tão simples, mas tão surpreendente pra o momento que vivo: estou sozinha e feliz, mesmo sabendo que neste exato momento ele está com a outra, sabe-se lá fazendo o quê e esse o quê não me importa. Outra coisa, o resultado da Uepa ainda não saiu e isso também não me importa.
  Acho que sofri tanto todos estes anos que me acostumei ao sofrimento a ponto de sofrer por antecedência e por mais racional que tente ser, a ansiedade não é algo que eu consiga controlar com tanta facilidade, aliás, ela geralmente me derruba. Não fosse a incrível capacidade de atuar que a sala de aula me ensinou ao longo dos anos, talvez tivesse enlouquecido há tempos. Entretanto, exatamente agora, estou sem as máscaras, completamente exposta e tranquila. Eu não sei qual será tua escolha, não sei se vou passar na prova e quer saber, pelo menos, só por agora não quero me importar com isso. Quero encostar minha cabeça no travesseiro e dormir bem sem precisar de um calmante, como hoje. Acordar sorrindo, mesmo que não seja do teu lado. Ser feliz dando aula àquelas crianças, mesmo que isso não seja o que planejei pra mim. Eu quero o agora, quero ser feliz agora, porque o agora passa tão rápido e sou tão confusa quanto a esfinge. 
  Não quero entender nada, não quero me preocupar com nada. Só quero viver. Na verdade, quero muito que tu faças parte disso, mas não sou eu quem vai dizer o que deves fazer. O que posso dizer, é que fazendo ou não parte da minha vida, é assim que vou viver daqui por diante, tranquila. Nada nessa vida é por acaso, Deus permite que algumas coisas aconteçam pra que façamos escolhas. Eu fiz a minha e independente do resultado, quero ficar tranquila, porque sei que Ele quer o melhor pra mim e o que tiver de ser será.
  Podes estar pensando, pra que ela escreveu tudo isso? Posso te dizer que nem eu sei muito bem o porquê. Sei que me conquistaste de forma tão intensa que pareces a única pessoa no mundo pra quem consigo me abrir, dizer tudo, me expor sem minhas tão caras máscaras de todas as maneiras possíveis mesmo com aquela pontinha de vergonha que já conheces. É um grande avanço, pra mim, pelo menos. 
 Bom, espero não ter te cansado tanto e peço, não leve a mal meu desabafo, é que parece que és uma das únicas pessoas do mundo que consegue entender minhas loucuras sem me julgar, que me quer (pelo menos, por enquanto) apesar de todos os pesares e ainda consegue ver algum tipo de beleza em meio a todos os meus defeitos. Essa é uma das muitas razões pra eu te querer e pra te importunar tanto com as minhas tolices. Mas isso é outra história. De qualquer forma, conversamos depois, quando conseguires achar um tempinho pra mim.
  Bjnhs,
  ...

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Até o fim


Madame Saatan
Até o fim que me cabe
Até o fim que se sabe
Até o fim que me cabe
Eu quero ir
Até o fim que se abre
Eu quero ver
Até o fim que circula
Até ouvir o silêncio na rua

Até o fim não entendo
Até o fim do bom senso
Até o fim que destrói
Eu quero ir
Até o fim permanente
Eu quero ser
Até o fim que liberta
Até ouvir o barulho da rua

E o fim que me resta é teu
E o fim que me resta é teu
E o fim que me resta é teu
E o fim que me resta é teu


terça-feira, fevereiro 19, 2013

"entre a minha boca e a tua, há tanto tempo, há tantos planos, mas eu nunca sei pra onde vamos".

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Divagações quase improdutivas


Às vezes, a arrogância vai por água abaixo. Por mais racional que nós dois tentemos ser, por mais vantagens que eu aparentemente pareça ter, sei lá, tudo é tão imprevisível. Por que cargas d'água fui olhar aquele sorriso? Por que foi atrás de mim quando eu tava tão quieta que ninguém nem me notava? Por que a carona? Por que a conversa? Por que tudo aquilo depois? Alguns beijos e discutimos sobre casa, carro, filhos, casamento. Quem começa um relacionamento (ou sei lá como se pode chamar isso) falando em casamento? Devemos ser dois insanos atraídos exatamente pela loucura de sermos.insanos. Não há explicação razoável nem mesmo para alguém tão materialista quanto ele.
Ele, mais um ele, meu Deus! Pedagogo, ateu e todos os outros adjetivos tão abomináveis pra mim e sabe-se lá porquê tão atrativos só por serem dele. Afinal, por que ele? Não existe nada, nada mesmo que fizesse se quer sentir atração suficiente pra chegar a ter qualquer contato, nem mesmo amigável e, de repente, estávamos grudados. Essa imprevisibilidade toda tá me enlouquecendo. Esta indecisão, então... Ou entra na minha vida, ou sai de uma vez por todas, simples assim. Pra que complicar? Já vivi a situação da imprevisibilidade, da necessidade irremediável, da paixão intensa até o final mais trágico possível. Não preciso repetir a dose. Ninguém é igual a ninguém, é certo. Aliás, não há pontos em comum entre os dois, mas a situação em si é tão semelhante que chega a dar calafrios. Incomoda muito.
Na verdade, é a sensação de estar na corda bamba a todo tempo que incomoda, sobretudo, por essa situação incomum. Sou muito altruísta, mais até do que gostaria de ser, mas livros e homens, não se empresta, nem se divide. Não posso, nem vou aceitar a tal situação, nunca fiz isso, não vou começar agora. 
Quer saber, já fiz uma vez, posso fazer outra, ou se decide ou decido eu. Mando embora morrendo por dentro, mas mando. Piora por um tempo, mas passa. 
Preciso ter foco, não posso mais viver a vida de ninguém, nem em função de ninguém. Já tá mais do que na hora de mudar. Não posso precisar de alguém pra dizer que me ama, pra resolver minhas carências e não tô mais afim de vida dupla, de aventuras escondidas, não posso mais viver assim. Tô caminhando pros 30, tá na hora de aposentar a garotinha. Quem sabe, um dia, a princesinha interior possa até viver o conto de fadas, isso se tiver de ser, se não não será. Não quero também os extremos nem do pessimismo, nem do otimismo. Quero o equilíbrio. Todo mundo diz que a vantagem de envelhecer é conseguir chegar a um equilíbrio consigo e com os outros e já que sempre envelheci cedo demais, quero esse equilíbrio logo. 
Aliás, tava tão feliz por isso antes dele aparecer pra desestabilizar tudo. Se tinha outra na história, pra quê veio? Pra quê fazer tanta questão de me conquistar? Às vezes, eu me pergunto se eu não estou mais interessada na disputa que no prêmio. Não seria a primeira vez. Sempre amei a sensação de vencer sem nem mesmo me esforçar pra isso, aconteceu tantas e tantas vezes involuntariamente que agora, na calmaria, pode ser só a saudade recalcada. 
Ah, não sei de mais nada, só sei que dessa vez não posso ficar tão impassível. Nunca fui de pressionar, mas farei, porque é necessário. Agora, posso dizer, quando se é mais nova só se vê a dor da perda, parece que o mundo vai ruir se terminar, hoje, vejo que não é bem assim, se terminar, aparece outro ou outros, eles não param de aparecer, não importa o quanto eu me sinta sufocada por tanta gente ao redor. O que muda é o momento, a química, nem sempre, mas, às vezes, até as intenções. Não é a primeira vez que me falam em casamento, isso sempre foi um carma pra mim. Por mais que eu quisesse parecer aventureira, eles sempre conseguiam ver algo de conservador ou sei lá o quê pra me dizerem que sou mulher pra casar. A diferença é que neste momento da minha vida, a proposta passou a ser algo a se considerar, por incrível que pareça. Assustador no primeiro momento, mas passível de análise. 
Eu que até pouco tempo queria tanto a solidão, passei a pensar que poderia terminar o ano casada e com a possibilidade de uma gravidez, ele quer tanto e fala tanto nisso. Resolveria de uma vez por todas, como ele mesmo disse. Mas não, obrigada, isso não combina comigo. Engravidar pra segurar alguém, tô passando longe. É mais  fácil engravidar e sumir, isso sim. Sempre sonhei com a minha filha linda com seus cachinhos, esperta e falante, parecida comigo, alguém que poderia amar, de fato, sem medo de ir embora, sem medo de perda. Filhos são sempre filhos, não importa o que façam, é um amor eterno e incondicional. 
Um homem, isso é sim é complicado. Eles mentem, enganam, traem, mudam tanto o discurso com o passar do tempo... não tenho mais tempo pra isso. Sei como é amar um homem, conheço toda a dor e o prazer que um relacionamento a dois pode proporcionar. Mas um filho, minha filha, seria completamente novo, perfeito talvez. Já tenho idade, maturidade e, finalmente, estabilidade. Será que tá na hora? Uma amiga acabou de dizer que não posso querer agarrar o mundo todo desse jeito a vida inteira, não posso mais tentar estudar tanto e trabalhar ao mesmo tempo, que se eu tivesse casa, marido e filho pra cuidar estaria mais satisfeita.
Queria tanto passar num concurso, pronto, passei, e muito bem, aliás, empatei no primeiro lugar, é de causar orgulho, não? Deus tem sido muito bom pra mim. Como se não bastasse, tô num dos melhores cursinhos de Belém sendo relativamente bem paga pro trabalho que tenho. Além disso, fui convidada a participar de um grupo de pesquisa de Estudos Culturais na Ufpa, meu primeiro passo pro tão sonhado doutorado em Antropologia. O que falta? Não sei, não sei mais. Eu deveria estar feliz e não é que não esteja, mas quero me sentir completa. Quero a sensação de realização, de, enfim, passar a outra fase da vida. Me aventurei e aproveitei o suficiente, fui mais do que intensa em cada uma das minhas loucuras, tá na hora de parar um pouco, de ter responsabilidades maiores. 
Estou envelhecendo e só tenho visto coisas boas nisso. As pessoas reclamam tanto do tempo. Claro que tem desvantagens, como tudo na vida, mas a vantagens são tão grandes. Me vejo na melhor fase da minha vida, por isso, quero saber como aproveitá-la sem arrependimentos. É possível?   

domingo, fevereiro 17, 2013

Deixa estar


Los Hermanos

Ligue, ligue, ligue, ligue, ligue para mim
Diga, diga, diga, diga, diga que me ama
Que eu não vou mais implorar
Se quer saber, deixa estar
Digo que não ligo, mas não vivo sem você
Eu falo, não me calo, tiro sarro
Só pra ver se eu consigo despertar o seu amor
Deixa estar
Eu sei, que na verdade eu não consigo entender o nosso amor
Que o teu silêncio fala alto no meu peito
E que nós dois, estamos juntos na distância
Discrepância do destino!
Ziguezagueando zonzo de te procurar
Eu tranco no meu pranto canto alto de euforia
Que eu queria te cantar
Guardo pra mim
Deixa estar
Sei que fez um mês entre vocês, de união
Pouco, muito pouco, quase nada
Nesta estrada você está na contramão
E a solidão, deixa estar
Vocês vão aprender que nessa vida
não se pode mais errar
Vão descobrir que entre as estrelas e o chão existe o mar
Aí então a euforia, um belo dia, vai passar
E cairá sobre seu mundo, num segundo, a traição
Deixa estar

quarta-feira, fevereiro 13, 2013


É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!


Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.


Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.”
(Fernando Pessoa)

Pequena arrogância

Não te procurei, cativar faz parte de mim. Veio porque quis e vai quando quiser. Como te disse, aproveita bem, porque quanto a isso sou extremamente arrogante: teu corpo está lá, mas teus pensamentos ainda estão aqui, pertinho de mim.

domingo, fevereiro 10, 2013



"Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.”

(Fernando Pessoa)

sábado, fevereiro 09, 2013

Cacos

Vander Lee
Ok, você pediu
você plantou
você se abriu
você sonhou
e acordou
entre suspiros
a olhar para a distancia
uma vida a esperar...
por quem você mal viu
e até chorou
quando partiu
que procurou
mas estava a mil
agora esquece essa intenção
que a vida acende
o candelabro da razão
juntando outros lados
da mesma questão,
as cartas na mesa
e as cinzas no chão,
dispenso as certezas
mas presto atenção
recolho meus cacos
e deixo nos braços da canção
e vou dar uma volta
olho a minha volta
nada tem volta
volta