segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Divagações quase improdutivas


Às vezes, a arrogância vai por água abaixo. Por mais racional que nós dois tentemos ser, por mais vantagens que eu aparentemente pareça ter, sei lá, tudo é tão imprevisível. Por que cargas d'água fui olhar aquele sorriso? Por que foi atrás de mim quando eu tava tão quieta que ninguém nem me notava? Por que a carona? Por que a conversa? Por que tudo aquilo depois? Alguns beijos e discutimos sobre casa, carro, filhos, casamento. Quem começa um relacionamento (ou sei lá como se pode chamar isso) falando em casamento? Devemos ser dois insanos atraídos exatamente pela loucura de sermos.insanos. Não há explicação razoável nem mesmo para alguém tão materialista quanto ele.
Ele, mais um ele, meu Deus! Pedagogo, ateu e todos os outros adjetivos tão abomináveis pra mim e sabe-se lá porquê tão atrativos só por serem dele. Afinal, por que ele? Não existe nada, nada mesmo que fizesse se quer sentir atração suficiente pra chegar a ter qualquer contato, nem mesmo amigável e, de repente, estávamos grudados. Essa imprevisibilidade toda tá me enlouquecendo. Esta indecisão, então... Ou entra na minha vida, ou sai de uma vez por todas, simples assim. Pra que complicar? Já vivi a situação da imprevisibilidade, da necessidade irremediável, da paixão intensa até o final mais trágico possível. Não preciso repetir a dose. Ninguém é igual a ninguém, é certo. Aliás, não há pontos em comum entre os dois, mas a situação em si é tão semelhante que chega a dar calafrios. Incomoda muito.
Na verdade, é a sensação de estar na corda bamba a todo tempo que incomoda, sobretudo, por essa situação incomum. Sou muito altruísta, mais até do que gostaria de ser, mas livros e homens, não se empresta, nem se divide. Não posso, nem vou aceitar a tal situação, nunca fiz isso, não vou começar agora. 
Quer saber, já fiz uma vez, posso fazer outra, ou se decide ou decido eu. Mando embora morrendo por dentro, mas mando. Piora por um tempo, mas passa. 
Preciso ter foco, não posso mais viver a vida de ninguém, nem em função de ninguém. Já tá mais do que na hora de mudar. Não posso precisar de alguém pra dizer que me ama, pra resolver minhas carências e não tô mais afim de vida dupla, de aventuras escondidas, não posso mais viver assim. Tô caminhando pros 30, tá na hora de aposentar a garotinha. Quem sabe, um dia, a princesinha interior possa até viver o conto de fadas, isso se tiver de ser, se não não será. Não quero também os extremos nem do pessimismo, nem do otimismo. Quero o equilíbrio. Todo mundo diz que a vantagem de envelhecer é conseguir chegar a um equilíbrio consigo e com os outros e já que sempre envelheci cedo demais, quero esse equilíbrio logo. 
Aliás, tava tão feliz por isso antes dele aparecer pra desestabilizar tudo. Se tinha outra na história, pra quê veio? Pra quê fazer tanta questão de me conquistar? Às vezes, eu me pergunto se eu não estou mais interessada na disputa que no prêmio. Não seria a primeira vez. Sempre amei a sensação de vencer sem nem mesmo me esforçar pra isso, aconteceu tantas e tantas vezes involuntariamente que agora, na calmaria, pode ser só a saudade recalcada. 
Ah, não sei de mais nada, só sei que dessa vez não posso ficar tão impassível. Nunca fui de pressionar, mas farei, porque é necessário. Agora, posso dizer, quando se é mais nova só se vê a dor da perda, parece que o mundo vai ruir se terminar, hoje, vejo que não é bem assim, se terminar, aparece outro ou outros, eles não param de aparecer, não importa o quanto eu me sinta sufocada por tanta gente ao redor. O que muda é o momento, a química, nem sempre, mas, às vezes, até as intenções. Não é a primeira vez que me falam em casamento, isso sempre foi um carma pra mim. Por mais que eu quisesse parecer aventureira, eles sempre conseguiam ver algo de conservador ou sei lá o quê pra me dizerem que sou mulher pra casar. A diferença é que neste momento da minha vida, a proposta passou a ser algo a se considerar, por incrível que pareça. Assustador no primeiro momento, mas passível de análise. 
Eu que até pouco tempo queria tanto a solidão, passei a pensar que poderia terminar o ano casada e com a possibilidade de uma gravidez, ele quer tanto e fala tanto nisso. Resolveria de uma vez por todas, como ele mesmo disse. Mas não, obrigada, isso não combina comigo. Engravidar pra segurar alguém, tô passando longe. É mais  fácil engravidar e sumir, isso sim. Sempre sonhei com a minha filha linda com seus cachinhos, esperta e falante, parecida comigo, alguém que poderia amar, de fato, sem medo de ir embora, sem medo de perda. Filhos são sempre filhos, não importa o que façam, é um amor eterno e incondicional. 
Um homem, isso é sim é complicado. Eles mentem, enganam, traem, mudam tanto o discurso com o passar do tempo... não tenho mais tempo pra isso. Sei como é amar um homem, conheço toda a dor e o prazer que um relacionamento a dois pode proporcionar. Mas um filho, minha filha, seria completamente novo, perfeito talvez. Já tenho idade, maturidade e, finalmente, estabilidade. Será que tá na hora? Uma amiga acabou de dizer que não posso querer agarrar o mundo todo desse jeito a vida inteira, não posso mais tentar estudar tanto e trabalhar ao mesmo tempo, que se eu tivesse casa, marido e filho pra cuidar estaria mais satisfeita.
Queria tanto passar num concurso, pronto, passei, e muito bem, aliás, empatei no primeiro lugar, é de causar orgulho, não? Deus tem sido muito bom pra mim. Como se não bastasse, tô num dos melhores cursinhos de Belém sendo relativamente bem paga pro trabalho que tenho. Além disso, fui convidada a participar de um grupo de pesquisa de Estudos Culturais na Ufpa, meu primeiro passo pro tão sonhado doutorado em Antropologia. O que falta? Não sei, não sei mais. Eu deveria estar feliz e não é que não esteja, mas quero me sentir completa. Quero a sensação de realização, de, enfim, passar a outra fase da vida. Me aventurei e aproveitei o suficiente, fui mais do que intensa em cada uma das minhas loucuras, tá na hora de parar um pouco, de ter responsabilidades maiores. 
Estou envelhecendo e só tenho visto coisas boas nisso. As pessoas reclamam tanto do tempo. Claro que tem desvantagens, como tudo na vida, mas a vantagens são tão grandes. Me vejo na melhor fase da minha vida, por isso, quero saber como aproveitá-la sem arrependimentos. É possível?   

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