domingo, dezembro 05, 2010

Já escondi um amor com medo de perdê-lo, já perdi um amor por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto. Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.
(Clarice Lispector)

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Frustrações


Nunca esperei compreensão do mundo, sei o quanto os seres humanos são complicados e cheguei a conclusão de que é perda de tempo tentar agradar a todos, tentar ser reconhecida ou algo do tipo, mas sempre imaginei que seria compreendida um dia, ao menos pela pessoa que amo. Sou muito transparente, cada vez mais sou pior em atuar, talvez porque eu tenha cansado de mentir, ou melhor, de fingir. Não vou mais fazer de conta, se estou bem, quero que todos percebam como estou feliz, se estou mal, não preciso da pena de ninguém, mas também não preciso fazer de conta que não tá acontecendo nada e continuar sorrindo, cansei das máscaras. Agora tudo o que eu quero é ficar bem e faz parte disso um pouco de reclusão. Isso não é ser chata, é só cansaço. Estou cansada de ter todos os olhos voltados pra mim, quando tudo o que eu quero é sumir, passar sem ter que dizer que tá tudo bem ao ser cumprimentada. Aliás, essa é uma das coisas que mais me intrigam, tudo bem, tudo bem, basta dizer oi, até mais, por que tenho que dizer que tá tudo bem se nem sempre é assim?
Hoje era uma das noites em que eu precisava de um pouco de tranquilidade, faria bem um pouco de silêncio, um pouco de carinho, não queria só ficar em casa, mas o Vadião também não era a solução dos meus problemas. Pensei que isso havia sido percebido, pelo jeito não, às vezes é preciso mais que gestos, mais que deixar subtendido, será que precisava gritar? É demais querer colo?
Estamos todos sob pressão, os últimos acontecimentos, todas as obrigações inadiáveis do dia-a-dia, somados ao final de ano é isso mesmo, totalmente compreensível, daí achar que lugar cheio, música alta e da pior qualidade, diga-se de passagem, cheiro de álcool e cigarro iriam animar minha noite é demais. Deveria ter fugido, corrido pra casa, ter me enrolado no meu cobertor, agarrado meu urso de pelúcia... umas horas olhando pro teto pensando nas consequências das minhas loucuras não teriam me entediado tanto no final das contas.
Sei que a vida não é o que se quer que seja o tempo todo, menos ainda as pessoas, por isso mesmo sei que não posso ter todos os meus desejos atendidos, bastava dizer que naquele momento não seria possível atendê-los. Amo meu tempo livre, meu espaço, logo, vou respeitar o tempo livre do outro, o espaço do outro, mesmo que isso signifique ficar em segundo plano às vezes, relacionamento também é negociação, é saber ceder. Por enquanto, preciso me revestir de paciência e entendê-lo mesmo que eu não seja entendida, é o preço a se pagar, não escolhi me apaixonar, mas resolvi que poderia lidar com isso, então talvez este não seja o momento de desdenhar a dádiva de ter alguém pra amar, afinal, não era isso que eu tanto queria?

quinta-feira, novembro 11, 2010

Rascunho de algo pra o meu menino

Te amar é parte de mim. Passou a ser no dia em que entrei naquele ônibus e nossos olhares começaram a se encontrar. Foi tudo tão rápido e tão perfeito que na segunda de manhã entre substantivos e verbos, sujeitos e predicados, tentei me convencer de que era apenas um sonho pra não me perder entre palavras. Desde então, te amar passou a fazer parte do meu sorriso, do meu olhar, da minha vida, tudo em mim passou a ser um pouco teu. Os meus dias mais felizes são mais completos porque estás do meu lado, os mais tristes são mais fáceis porque os passo entre os teus braços.
É em ti que me reconheço, me reencontro, me refaço e me amplio, me exploro, me descubro. As marcas profundas que deixaste gritam a qualquer desavisado que parte de mim te pertence, que agora sou porque me encontrei em ti.

sábado, outubro 30, 2010

"Tarde demais o conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-lo, amei-o." (William Shakespeare)

"O verdadeiro nome do amor é cativeiro." (William Shakespeare)

quarta-feira, outubro 06, 2010

Metade


Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

terça-feira, setembro 14, 2010

segunda-feira, agosto 30, 2010

Meu tímido luto


Perder alguém é sempre algo muito triste. O que dizer num momento desses? Tivemos tão poucos momentos juntos, esses poucos tão perfeitos, uma única semana. Lembro bem, agosto de 2006, eu tava no terceiro ano da graduação, mil planos na cabeça, muitas das experiências mais loucas já realizadas (ENEL, o que mais posso dizer?), quando re-conheci aquele senhorzinho que me acolheu tão bem em sua casa, porque eu não conseguia suportar o frio de Brasília alojada numa sala de aula da UnB. Ele prontamente me acolheu, foi meu guia e, aos poucos, meu melhor amigo naquele lugar.
Tudo o que eu sabia até então é que ele era irmão do meu avô, alguém de quem minha avó falava muito bem, só um parente distante, depois percebi que ele tinha a voz parecida com a do vovô, uns costumes muito parecidos com os do papai, mas bem mais refinado que os dois juntos. Lia tanto... Nos identificamos de imediato, quantas conversas! Aquele jeito de tentar me convencer que queria ter a paixão por poesia que eu tinha, que queria saber ler como eu, quem me dera ter tanto conhecimento. Nunca vou esquecer, foi a primeira vez que não me senti uma alienígena na minha família. Isso mesmo, sempre fui a diferente, com opiniões e comportamentos estranhos e quando tinha me acostumado a isso, conheci alguém tão parecido comigo na liberdade de pensamento. E as provocações? Ele não conseguia entender como eu conseguia ser evangélica com a cabeça que tenho (como muitos outros, aliás), eu e meus pensamentos loucos.

Lembro que depois de um porre ridículo no ônibus, ele queria outro, mas de rum com sorvete, pode? Queria que eu começasse a falar a verdade, que verdade? Existe verdade? Ele riu. Nos confidenciamos, rimos, choramos, é, choramos algumas vezes, a última, timidamente na partida, tiramos fotos que nunca foram reveladas, trocamos e-mails curtos, esparsos, nunca mais. Eu queria revê-lo. Ele viria a Belém, foi o que disse ano passado. Eu iria a Brasília, começo do ano que vem, estava nos planos. Até que por esses dias chegou a notícia, internado, coma, falecimento.
Hoje não derramei nenhuma lágrima, mas o coração tá tão apertado, tão dolorido. Com aqueles pensamentos que batem sempre, de como poderia ter feito mais coisas, ter dito mais coisas, não deu tempo, não me esforçei talvez, cada um seguiu a sua vida distante. Inevitável. E agora? Só posso lamentar a perda, lamentar a distância, guardar as doces lembranças com saudade. Faltava tão pouco e só Deus sabe porque esses poucos meses deveriam nos separar. Eu só sei que dói, apenas uma semana e todo esse estrago. Depois de 4 anos não pude esquecê-lo, é como se tivemos nos despedido ontem, sem saber que nunca mais nos veriamos, dissemos um tímido tchau, certos de nos reencontrar, mesmo que depois de muito tempo. Ele garantiu que dificilmente viria a Belém, mas eu garanti que certamente voltaria a Brasilia. E vou voltar, mas infelizmente, não vou mais vê-lo.
Por favor, não me analise
Não fique procurando
cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise
profunda, quanto mais eu!
Ciumenta, exigente, insegura, carente
toda cheia de marcas que a vida deixou:
Veja em cada exigência
um grito de carência,
um pedido de amor!

Amor, amor é síntese,
uma integração de dados:
não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
(ninguém abraça um pedaço),
me envolva toda em seus braços
E eu serei perfeita, amor!
(Mirthes Martins)

domingo, agosto 29, 2010

Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua.
(Martha Medeiros)

quinta-feira, agosto 26, 2010

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...

(Mário de Andrade)

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

sexta-feira, agosto 20, 2010

O tempo

(Mario Quintana)
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Perfil do orkut aos 23

Depois dos 20, cansei do pessimismo melancólico da adolescência e aprendi a ver flores pelo caminho, mesmo quando elas não floresceram pra mim. Depois da depressão, cansei de sofrer pelo que os outros me fizeram e aprendi a ignorar quem me faz mal, eu sempre me levanto, não vou mais baixar a cabeça. Depois das aventuras, cansei da adrenalina de alguns minutos, do impulso voluptuoso de uma noite efêmera e aprendi a me apaixonar, a me dividir, a perdoar mesmo quando isso doeu mais do que eu pudesse suportar, afinal, ser feliz é uma atitude, é mais que pensamento ou simples vontade. O que eu conquistei, onde eu cheguei, meus sonhos... ninguém pode me tirar nada disso. Se cair me levanto; se doer, logo sara; me construí com meus risos e minhas lágrimas, amadureci. Agora ser feliz é tudo que me importa. Já dizia Fernando Pessoa: Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.

Tudo bem

Já não tenho dedos pra contar
De quantos barrancos despenquei
E quantas pedras me atiraram
E quantas atirei
Tanta farpa, tanta mentira
Tanta falta do que dizer
Nem sempre é so easy se viver
Hoje não consigo mais me lembrar
De quantas janelas me atirei
E quanto rastro de incompreensão
Eu já deixei
Tantos bons, quantos maus motivos
Tantas vezes desilusão
Quase nunca a vida é um balão
Mas o teu amor [ainda] me cura
De uma loucura qualquer
Encostar no teu peito
E se isso for algum defeito por mim
Tudo bem
(Ana Carolina)

segunda-feira, agosto 16, 2010

Relembrando parte das férias

Momentos maravilhosos merecem lindos poemas, não posso esquecer dos momentos que passei em Soure. Que saudade! Eu estava encantada a cada passo e não poderia duvidar nem por um segundo daquele amor que era só meu, tão perfeito, A mágoa parecia ficar de lado, embora volta e meia parecesse despontar, eu quero esquecer, quero acreditar que vai dar certo, quero continuar naquele olhar.

A noite na ilha
Pablo Neruda
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.


quarta-feira, agosto 11, 2010

As sem razões do amor

(Carlos Drummond de Andrade)
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

terça-feira, julho 20, 2010

E mais...

Dor, dor e mais dor... é tudo. Não, ainda tem mais. Tem o medo de perder e não me encontrar mais porque apostei todas as fichas nele. Por que tem que ser tão parecido comigo? Eu tô vendo toda a história se repetir, mas dessa vez a dor é minha, dessa vez sou eu quem está do outro lado torcendo pra dar certo, mas prevendo o que vai acontecer. Eu queria dar tempo a tudo, pode ser que mude, que essa sensação diminua, é tão difícil. Estou prevendo o desmoronamento (se bem que não precisa ser gênio pra isso).
Eu não o reconheço mais. Sabia que poderia acontecer, achei que estivesse preparada, porque é tão fácil prever isso, mas só dá pra saber mesmo quando acontece. Por quê? Eu sabia que ia ser assim, eu sempre soube e tentei me enganar esse tempo todo. Quer dizer, são quase 5 meses, não é muita coisa.
Não, é tudo pra quem nunca tinha se apaixonado.

Pequenos desvarios

Tanta coisa pra dizer, tava na hora de atualizar o blog, mas infelizmente, por enquanto, preciso de tempo pra mim. É um péssimo momento levando em consideração que tenho a dissertação pra escrever, preciso de palavras e sei que não tenho as que preciso, além disso, não é alimentando essa sensação que isso vai passar.

Só sei que preciso de tempo pra pensar, pra entender o que estou sentido e isso é tão difícil. Não quero mais falar sobre o que aconteceu, mas minha cabeça repassa constantemente, virei refém de mim mesma, das situações que criei no passado, dos sentimentos que nutri para o presente. Eu esperava tantas coisas boas. Traição, mentiras, humilhação e sei lá quantas coisas mais. Eu deveria saber lidar com tudo isso, mas o que eu sei de relacionamentos? Só conheço aventuras, só sei o que é magoar e cair fora. De fato, tudo tem volta nessa vida.

Claridade


Ana Carolina
Eu não vou te convencer
Do que é certo aqui pra mim
Eu não vou mudar você
Deixa o vento lhe mostrar
Ele sabe sobre mim

Eu não quero mais correr
Vou cuidar do meu jardim
Trago flores pra você
Deixo o tempo lhe mostrar
Nossa historia é mesmo assim

Chora, pois a chuva de agora
Vai molhar as suas rosas
E a tristeza vai ter fim
É hora, acabou a tempestade pra chegar
A claridade do amor

Chora, pois a chuva de agora
Vai molhar as suas rosas
E a tristeza vai ter fim
É hora, acabou a tempestade pra chegar
A claridade do amor



segunda-feira, maio 31, 2010

Serenata

Cecília Meireles
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

quarta-feira, maio 26, 2010

Estou

Álvaro de Campos
Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas.
O que sei é que estou tonto
E não sei bem se me devo levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos nisto: estou tonto.

Afinal
Que vida fiz eu da vida?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou tonto ...

Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto ...

Sim, verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.

Mas se isto é assim, é assim.
Deixo-me estar na cadeira,
Estou tonto.
Bem, estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto,
Tonto...
Tonto.

segunda-feira, maio 24, 2010

Palavras, palavras...


Adoraria conseguir transpor em palavras o que sinto, porque sinceramente não consigo explicar quando preciso. Na verdade, parece que é difícil até mesmo me compreender. Mudei demais pra conseguir me entender com o raciocínio de antes. Quero muito e não consigo nem completar o que preciso, desejo demais quando não dependo apenas de mim pra realizar.
E este querer repentino? Um querer bem não sei de onde, uma saudade sorrateira durante seis dias da semana, um desejo entorpecente... Como não pude dizer tudo isso em poucas palavras quando ele pediu pra eu falar? Como consegui ficar calada se precisava falar. Pela primeira vez alguém se preocupa com o que sinto e tem interesse em saber o que tenho a dizer e... nada. Nem um esboço de palavra sequer, e as sensações transbordavam dentro de mim, me afogavam. Eu tentei comprimir aquele aperto e tudo que consegui foi dar as costas, inconscientemente tentando testá-lo, era a forma de deixar clara minha insatisfação e perceber, ele se importa. como isso é bom. Mas não resolve nada.
O que é isso que sinto? Consegui chegar ao extremo de não saber onde quero chegar tendo tudo bem traçado. Tinha que acontecer, eu precisava me sentir viva de novo. Só não sei o que é, mas sei o que provoca. Me completa, me divide. Estou inteira pela metade. É... Tenho a leve impressão de que começo a entender. Impressão apenas, às vezes acho que entendi e volto ao começo pra saber onde errei, o que deixei passar. Quero acertar. Perdi a segurança, a confiança, que falta faz ser como era, apenas em algumas coisas, claro.
Eu recriei meu mundo, me refiz da forma mais correta que encontrei, tentei esquecer, mas não é possível, então as cicatrizes vieram de presente. Com o tempo, consegui o que queria e até mais do que esperava. Recebi de braços abertos acreditando nunca ter sido tão feliz e de repente voltei à estaca zero. Medo. Nunca me passou tanto pela cabeça uma palavrinha tão pequena, em letras garrafais. É preciso ter calma. É preciso cuidado. Não sou mais a menina. Antes era fácil, caia, com lágrimas levantava com os arranhões nos joelhos, depois, ah, era apenas mais um arranhão, um cascão de ferida feio, sarou, pronta pra outra. Que saudade! Agora não há mais espaço pra arranhões, quer saber, acho que não tenho mais joelhos.
O que vou fazer se cair de novo. Não sei. É, eu sempre vou em frente, eu já lhe disse, mas a que custo. O que mais vou carregar agora?

O que há

Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

sexta-feira, maio 14, 2010

Página 69 (Aquele olhar...)

Olga Savary


Conhecia o gosto da palavra medo, conhecia o cheiro da palavra medo, o som da palavra não tendo primazia sobre ela. Tinha a vocação dos abismos — e não sabia.

Ainda não entendera ao certo se a possibilidade maior estava no primitivo, nas coisas primitivas, ou no requinte. Porque fundamental era o mistério, e mistério nos dois havia.

Ela estava na restinga, o capim chegava-lhe aos tornozelos como poderia atrevidamente tocar-lhe o alto das coxas, o mar vinha na salsugem até seu corpo numa espécie de andar como o coleante andar das serpentes. Nunca vira olhar mais sensual, mais direto, mais provocador e animal do que esse olhar úmido e duro a um só tempo, cheio de desejo dela, mas sem ternura alguma: sou teu inimigo, te matarei de prazer e não terei piedade. O olhar dourado do abismo, o olhar cor-de-mel-da-paixão-puramente-animal-sem-a-menor-ternura, urgente, na restinga.

Homem algum a tinha olhado assim antes, tão friamente, com essa frialdade de posse. De imediato, esse olhar criou um elo quase arquetípico entre os dois, uma cumplicidade.

Ninguém jamais a tinha olhado assim e assim penetrado esse ponto perdido de sua consciência de ser também, súbita e violentamente, um animal, com esse magma a rugir nas entranhas como um animal no cio.

Como teria ele entrado de seu inconsciente para a clareira de sua consciência? Depois de Gamiane?

Este olhar: a figuração de um sonho? Apanhada na armadilha, os pontos nevrálgicos da paixão em seu corpo — os pés em primeiro lugar, quase oriental que era, a nuca, o longo do dorso, a parte de fora das ancas, o interior das coxas, a vulva - foram tomados como uma fortaleza de assalto por este olhar. Toda uma sarça ardente, sentia-se também um animal.

Sua consciência se esvaía, estranha e febril, como uma rápida perda da memória. Nunca tivera sido tão fêmea como então, refletida nesse olhar.

Feras agora, os músculos de ambos estavam retesados, possessos. Sua sede? Um castelo de águas? Só abrasamento e fúria essa atração. Bode, planto em ti um jardim de crinas e de espantos.

O olhar mais sexy que tinha visto. O olhar dourado do abismo. E era de um bode.