domingo, março 14, 2010

Quando a voz é silêncio

o silêncio de mim
na densidade de teu corpo
tem o gosto eterno
das tormentas
— quando a voz é silêncio

silêncio meu de mãos
na correnteza feroz
com que me inventas
e me afogas — indelével —
nos olhos cerrados

(beija o meu beijo
nas faias dos meus versos)

Lília Chaves

quarta-feira, março 10, 2010

Saudade

Será que saudade mata? Não, louca, não mata, mas vai despedaçando aos poucos. É aquela tal dor ínfima, incômoda e delicada que derruba acariciando, estatelada é que percebo a contradição de tê-lo enraizado mesmo longe. Vagando em mim, caio num sem direção insegura, tateando sentimentos que não conheço, um sem razão, sem limites.
Desperto acordada contando as horas que me batem até te ver, lúcida inconsciência. Desperto em teus braços, desperto em tua boca, em teu corpo, quisera não despertar, cobrir-me de ti até amanhã, cobrir-me de ti até depois. Depois. Sonora desarmonia em meus ouvidos, tudo o que temos é o agora, tudo o que eu tenho é a lembrança e o desejo de um novo encontro.

terça-feira, março 09, 2010

Mais desvarios

Me dizes pra ter calma e não há nada que eu queira mais neste momento da minha vida que ter calma. Parece que já começamos a não nos entender ou talvez eu tenha esperado mais do que deveria. Sei lá. Gostaria de entender mais de nós, ter mais certezas, menos vontades. Começamos mal, me acostumei à convivência e agora tanta distância me incomoda, nem eu percebi o quanto me atirei, só agora veio o medo da queda, o medo da perda. Só se percebe quanto dói estar só quando se está acompanhada.
Nenhuma promessa, só agora, depois pra depois, que hipocrisia! Eu só digo isso da boca pra fora. No começo era verdade, era o que eu estava acostumada, agora nem sei dizer o que aconteceu, talvez a minha solidão pesasse tanto que bastava te ver e qualquer curva seria tragédia certeira. E foi, ao menos pra mim. Derramei todas as mágoas acumuladas achando que deverias me conhecer, patético, me cobri de mel pra chegar onde queria e acho que cheguei perto de algo que eu nem sei o que é.
Mas afinal, o que esperas de mim? Eu quero o agora, mas também gosto de pensar no depois, ser apenas um capítulo é tiro à queima roupa, querido. Eu também quero estar perto, também só quero os teus braços de vez quando, ouvir tua voz, saber que estás perto, podemos deixar o depois por um momento porque é em ti que eu tenho me encontrado e sido feliz como já não era há muito tempo.

domingo, março 07, 2010

Como explicar que sou menina?

Como explicar que sou menina?
Sinto o riso em minha alma
Assim como ri a água na fonte
e riem as luas amigas.

Do tempo? Lembro uma voz
Quantas vozes se perderam
no vão da minha memória...
Não cultivo mais esperas.
No retrocesso da vida, sou menina.
De despreocupados momentos,
De cantigas.
Do amor? Lembro uma luz.
Mas de amores quantos sonhos
embalaram minha história...

Sou menina. Sou lua. Sou cantiga.
Se quiseres saber da vida,
te entrego a minha.
Se quiseres saber dos sonhos,
te conto o meu.
Se quiseres brincar, menino,
vem rir comigo...
Vem, menino, ser meu sol e meu refrão?

(Lilia Silvestre Chaves)

terça-feira, março 02, 2010

Algo que aprendi

De fato, meninos não são homens, mas homens também não são meninos.