À espera da primavera os dias rastejam inconscientes do estrago infligido ao castelo de areia que construí e que ele derruba com tanto prazer e suor a cada toque lascivo. Eu preferi o vilão ao príncipe, devo suportar as consequências. O vândalo reaparece inesperadamente, como na primeira vez, se instala grosseiramente e ainda debocha da minha fragilidade. Ele goza das minhas convicções e se vai. Mas fazer o quê se ele traz a vida em si, se torna o castelo em festa e afasta o inverno solitário.
Eu sorvo a fonte até o último gole, me preparando para hibernar quando ele se for, tento resistir às mentiras que impõe tão bem camufladas em sua pele de leite e mel. Ele sempre traz delicadamente o sol e faz renascer todo o desejo congelado pelo tempo, me queima a pele e aplica a conta gotas a vida esperada durante toda uma estação cruel.
Ao chegar, anjo melífluo encanta desmesuradamente, me faz morrer em frente ao mar calmo. Ao sair, carrasco áspero castiga desmedidamente ao tom de uma voz amarga vinda de não sei que abismo para lançar de vez às masmorras, sabendo que só ele é capaz de abrir os cadeados das correntes impostas.
É frio e escuro. Ele voltará, sempre volta.