Ele
me beijou, mas foi como se me desse um soco. Enquanto as lágrimas escorriam, eu
tentava ser o mais racional possível, afinal, prometi a mim mesma que seria se
voltasse a me envolver com alguém novamente. Pensei que finalmente saberia como
lidar com qualquer situação. Não foi assim dessa vez. Não foi assim novamente.
Acusação
após acusação, eu me calei. Preciso pensar. À medida que a água escorria por
meu corpo junto com as lágrimas, eu refletia. Procurava dentro da minha cabeça
qualquer vestígio de lembrança ou justificativa tentando ser o mais objetiva
quanto possível. Nada me levava àquela lógica, não fazia o menor sentido. Fiz de
tudo pra evitar, dei espaço, toda a liberdade que se possa imaginar.
Não,
não farei isso de novo, não vou carregar a culpa. Não vou me sufocar. Não sou
perfeita, sei disso, e no momento as acusações são tão infundadas. Eu me
prejudiquei, eu me abandonei irresponsavelmente por nós. Me despi completamente
de mim, ouvi as provocações, negligenciei obrigações vitais pra me sentir viva
e pra fazê-lo viver. Não foi suficiente.
Eu
o tirei da trajetória, quebrei seu cronograma. Exigi demais? Quando? Nunca pedi
nada, só ofereci. Eu sou meu próprio buraco negro, não o de ninguém, será que
ele não conseguiu entender? Nunca pedi ajuda. Em troca, recebi um soco. Tudo o
que eu queria era dizer o quanto estava sendo injusto. Então, por que me calei?
Simplesmente, porque não vou mais me vitimizar, sei quem sou e o que fiz e
espero realmente que ele perceba.
Não
sou fria. Só eu sei da dor de cá, mais uma no final das contas. Suportável?
Aceitável momentaneamente, eu diria. Ele me deu tanto, posso aguentar mais essa.
Acho que suporto mais essa como uma boa submissa. Conheço muito bem a dor e de
todas as sensações desse mundo, ela é a única que nunca me desamparou, me
abraçou calorosamente durante todas as noites, até aquela, aquela noite
fatídica em que ele me beijou, mas foi como se me desse um soco.
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