segunda-feira, outubro 23, 2017

Folha esquecida

O que eu sou pra ele? Passei a noite, a madrugada, a manhã e a tarde me perguntando. Passamos da fase mágica de todo começo de relacionamento, fomos bem rápido pras crises do durante e agora a interrogação me assusta. Estar comigo e estar com outra, até quando? A deusa decaiu tão rápido. É certo que o medo da perda consome sempre que se está com alguém realmente importante, mas até que ponto a importância passou a ser pouca ou nenhuma.
Não preciso ouvir eu te amo, não preciso ouvir que está apaixonado, mas preciso ouvir algo. Qualquer coisa. O silêncio fala, sei, os abraços, os beijos, mas quem ouve as palavras doces, os poemas, recebe as músicas que ele escreve não sou eu, então que importância eu tenho? A mesma de uma acompanhante que se paga pra marcar presença em eventos. Com a diferença de que ainda forneço outros benefícios.
Eu me calo, enquanto preso ao celular, ele se desdobra em lisonjas que um dia foram minhas. Tenho a maior paciência, porque, afinal, estou tão acostumada a atuar. Parece tão fácil por vezes fazer de conta que não é nada, embora já tenha dito sobre o incômodo de estar com ele enquanto fala com outras a todo tempo.
Não sou sua dona, faça o que quiser, mas por que enquanto estamos juntos? Ou melhor, por que o tempo todo? E por que se calar pra mim? Isso é o que, de fato, dói.
Faltam palavras ao poeta? Certamente não.
Talvez seja só uma folha antiga que continua lá, tão certa, no seu lugar, a ponto de não precisar mais ser preenchida, por ser já possuída. Pra quê o esforço? Há outras folhas, novas, diferentes, mais inspiradoras, elas sim devem valer o esforço.
E se a antiga, pelo tempo e cansaço, quiser partir, que vá, há outras, não é sempre assim? Não há mais tanto encanto, ou melhor, nenhum. É só mais uma folha antiga e amarelada, guardada numa pasta pra auxílio da memória, pra diversão das seguintes. Palavras acabadas. Só mais uma folha antiga e esquecida.

Nenhum comentário: