sexta-feira, junho 29, 2018

Das mentiras

Nenhum deles me viu chorar sozinha no escuro. Nenhum deles me viu implorar, me humilhar até desistir sem forças e dolorosamente conformada.
Nenhum deles me viu imóvel desesperada num lugar fétido e exposta pra quem quisesse ver.
Nenhum deles me viu ser carregada, quando eu nem conseguia ficar em pé sozinha, chorando, vomitando enojada.
Nenhum deles viu os apagões.
Nenhum deles esteve ao meu lado quando eu acordava assustada, ou tinha espasmos enquanto dormia.
Nenhum deles esteve por perto quando os ataques de pânico me paralisavam.
Nenhum deles parece ser capaz de amar de verdade a ponto de calar pra não estender mais sofrimento a quem não precisa nem merece e preferiu morrer a cada dia calada e só.
Nenhum deles sentiu na pele o terror de achar que seu agressor pode fazer qualquer coisa porque acha que com um pedido de desculpas pode consertar as coisas.
Nenhum deles sentiu a vergonha por ser burra a ponto de confiar e se odeia e se culpa constantemente por não ter sido perspicaz pra perceber a tempo de fugir.
Mas souberam me criticar por tentar seguir com a minha vida, por não aceitar ser vítima e por buscar suporte na única pessoa em que eu achava que poderia confiar.
Afinal, é tão fácil forjar o que foge ao meu controle, inclusive admissões de outrem.
Eu devo ser realmente o monstro asqueroso que topa qualquer coisa, desde lançar as mentiras mais mirabolantes até permitir a destruição da minha alma apenas pra manter alguém, segurar com as minhas garras gigantescas, depois de ter dado toda a liberdade imaginável, pedido pra ir embora e até insistido em se afastar sem ter qualquer contato.
A culpa é minha e só pode ser minha, fui eu que procurei. Quer dizer, que teve a genial ideia de criar um plano infalível pra destruir o pouco de felicidade que eu achava que tinha.
Quem sabe eu não forjo mais uma agressão, assim, com certeza, ele me pede em casamento dessa vez.

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