quinta-feira, janeiro 03, 2019

Alguns esclarecimentos


Gostei muito do teu poema, bem escrito como sempre, mas gostei, sobretudo, porque trouxe alguns esclarecimentos e pra quem não gosta de conversar como tu, serviu muito. É óbvio que eu entendi a mensagem, bem como os gigantescos equívocos no que me toca. Durante os últimos dias, tu, mais que a maioria das pessoas, sabes que me fechei mais em mim, não apenas porque é característico da minha personalidade, mas devido aos meus problemas familiares e pela minha própria condição de saúde que tem me restringido de fazer coisas que eu realmente deveria e preciso fazer. A propósito, eu ia me desculpar pelo afastamento, embora eu acreditasse que tinhas compreendido claramente pelas conversas que temos tido ultimamente.

Daí, me deparo com escritos que falam de um amar mais que o outro, amar pelo outro ou amar sozinho e eu fiquei pensando, de onde isso surgiu? Eu até gostaria de ser esse tipo de pessoa, me sentiria menos egoísta e moralmente melhor comigo, seria mais cristão até amar alguém como a mim mesma (um objetivo que pretendo atingir, assim que descobrir como me amar). Aliás, é bom dizer que nunca disse nada nem agi de nenhuma forma pra que isso fosse entendido e tentei adivinhar de onde surgiu essa ideia. Essa é a palavra mesmo, adivinhar, uma vez que a menos que digas, não tem como eu saber. Não apenas agi, disse repetidas vezes que gosto e quero te ter por perto porque até então me pareceu que isso fazia bem a ambos, nada além disso. Eu não deixo a entender, não minto, não atuo pra deixar uma mensagem, enfim, quando  quero algo, falo, quando não quero, falo do mesmo jeito sejam lá quais forem as consequências.

Posso afirmar com toda a certeza que mesmo quando começamos a sair, deixei muito claro que não tinha a ver contigo, eu não conseguia planejar um futuro a dois, que só consigo viver no presente e o futuro me assusta sobre tudo no mundo. Falei sobre não conseguir ver o outro como objeto e prendê-lo, que não sabia o que era sentir ciúmes (algo que nem eu sei como explicar). Até ao falar sobre amor, te disse que eu falo mesmo a todos que amo sem o menor problema por medo de me arrepender e não ter mais o momento em que pudesse fazer isso e já naquele momento ficou claro que não entendeste o que eu entendo por amor, mas quem disse que isso é fácil de explicar? Pra mim, se importar e querer bem às pessoas que estão próximas a mim é sim amar. No que diz respeito ao relacionamento a dois, feliz ou infelizmente, sou mais realista e pessimista do que gostaria, não me iludo, não consigo planejar casamento e coisinhas melosas e, obviamente, nisso, sempre fomos completamente diferentes.

O que eu entendi há muito tempo e também falei em várias ocasiões é que a fase do impulso, da lua-de-mel passou pra nós como passa em todo relacionamento e nós não seríamos exceção, o que não impediu que continuássemos aproveitando a companhia um do outro e não mudou em nada minha perspectiva de continuar vivendo o presente, me importando contigo e te querendo por perto sem que isso me prendesse ou me impedisse de continuar a minha vida como sempre. Mas aí, de novo, te ouço falar em um lado amar mais, amar pelos dois e, de novo, lá vou eu tentar entender de onde saiu isso (e me vem à mente tu dizendo pra eu parar de tentar entender as coisas, pra ser menos antropóloga, mas me desculpe, é automático, eu diria que é parte de mim).

Pela convivência, ouvindo tuas histórias, compreendi que tu constróis os teus moinhos de vento. Tu te aproximas de alguém, te apaixona loucamente, planeja mundos e fundos até passar a fase do impulso, quando a adrenalina começa a diminuir, então tu desistes ou o outro lado desiste primeiro e vai cada um pro seu lado até que aparece outra e outra e outra e outra... E o ciclo quixotesco continua. Se tu gostas de viver esse ciclo infinitamente, bom, é uma escolha tua e eu respeito, mas esse nunca foi o meu modo de viver nem de ver as coisas. Eu quero o agora, eu vivo o agora e talvez da pior forma possível, mas é a minha forma de viver. Não quero pensar no depois, assim como também não vivo de passado. Ademais, minha memória não é só péssima, também não gosto de ficar lamentando pretéritos.

Agora, sejamos honestos, quando te impedi de sair com outra pessoa (lembro de até ter te ajudado em algumas situações, inclusive)? Quando te prendi ou te impus algo de qualquer forma? Sempre foste livre, não é verdade? Até pra se afastar. Tiveste toda a liberdade que se pode ter, aliás, eu propus não termos mais contato em um dado momento, depois me arrependi porque achei desnecessário e não vejo o menor problema em admitir. Não andamos pelos mesmos lugares, não ando por aí pra te encontrar “por acaso”, nada nos prende a não ser, novamente, os bons momentos que eu pensei (talvez aí eu tenha me equivocado) que ainda compartilhássemos.

Às vezes, penso que querias que eu agisse assim, que te prendesse, que andasse atrás de ti, que me consumisse em ciúmes, exigisse excessivamente algum comportamento dito adequado, tentasse te “corrigir” ou te mudar ao meu modo e reclamasse de qualquer coisa ou qualquer pessoa pra te irritar, percebo ainda mais que o fato de te aceitar como és, nunca ter cobrado nada e ser indiferente a várias coisas que são fundamentais pra outras pessoas acaba sendo um incômodo porque não sabes como agir com alguém como eu e fica mais fácil dizer que eu amo mais, que amo pelos dois ou amo sozinha, algo que deve ser triste, no mínimo, pra conviver. Quer dizer, eu não sei se fica mais fácil pra justificar pra ti mesmo ou, se apesar de toda a franqueza, foi a única coisa que conseguiste interpretar disso tudo, o que é muito decepcionante vindo de ti.

Outra coisa, já falei isso, mas acho que preciso falar mais uma vez: não preciso dizer nem provar nada pra ninguém, tirar fotos contigo e postar em redes sociais, não preciso andar de mãos dadas por aí contigo pra mostrar alguma coisa. Fiquei foi em dúvida: será que tu querias que eu quisesse isso também? O grande problema é esse, eu não sei, tu não falas e eu fico tentando entender a partir do que tu escreves e envias pra outros.

Ainda mais do dito que acho necessário ser repetido, me importo contigo, gosto dos momentos que compartilhamos juntos e acredito que nos fazemos bem, quanto a isso, nunca soube nomenclaturar pra quem quer que fosse, mas precisa? Desculpe a frieza, mas acreditei em uma relação de troca em que ambos se beneficiam (bem grosso modo), que envolve em algum nível “bem-gostar, querer e bem-querer” sem o tão romantizado feitos um para o outro até que a morte nos separe e me incomoda imensamente esse “reducionismo do amor” que me coloca em uma posição inacessível, sob uma métrica obscura de sentimentos, que indica pena, que pede que se sinta pena da pobre criatura incompreendida e irremediavelmente iludida e ainda pior, que nos prende um ao outro de uma forma ruim (não encontrei adjetivo melhor).

Se por eu não conseguir entrar nesses padrões subjetivos de amor é incômodo pra ti, novamente me desculpe, mas eu sinceramente não sei o que se possa fazer. Aparentemente, tu ainda continuas dissuadido num sonho romântico a meu respeito e ao que sinto sei lá por qual motivo nesses quase dois anos que se vão. Talvez porque te coloque num nível hierárquico superior ao meu, menos humano e mais ideal pra ti, ou, talvez, simplesmente, porque fique mais bonito pra escrita do poeta, mas a realidade é dura, clara e não dá pra disfarçar com palavras bonitas, não a meu ver.



 

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