Gostei muito do
teu poema, bem escrito como sempre, mas gostei, sobretudo, porque trouxe alguns
esclarecimentos e pra quem não gosta de conversar como tu, serviu muito. É
óbvio que eu entendi a mensagem, bem como os gigantescos equívocos no que me
toca. Durante os últimos dias, tu, mais que a maioria das pessoas, sabes que me
fechei mais em mim, não apenas porque é característico da minha personalidade,
mas devido aos meus problemas familiares e pela minha própria condição de saúde
que tem me restringido de fazer coisas que eu realmente deveria e preciso
fazer. A propósito, eu ia me desculpar pelo afastamento, embora eu acreditasse
que tinhas compreendido claramente pelas conversas que temos tido ultimamente.
Daí, me deparo
com escritos que falam de um amar mais que o outro, amar pelo outro ou amar
sozinho e eu fiquei pensando, de onde isso surgiu? Eu até gostaria de ser esse
tipo de pessoa, me sentiria menos egoísta e moralmente melhor comigo, seria
mais cristão até amar alguém como a mim mesma (um objetivo que pretendo
atingir, assim que descobrir como me amar). Aliás, é bom dizer que nunca disse
nada nem agi de nenhuma forma pra que isso fosse entendido e tentei adivinhar
de onde surgiu essa ideia. Essa é a palavra mesmo, adivinhar, uma vez que a
menos que digas, não tem como eu saber. Não apenas agi, disse repetidas vezes
que gosto e quero te ter por perto porque até então me pareceu que isso fazia
bem a ambos, nada além disso. Eu não deixo a entender, não minto, não atuo pra
deixar uma mensagem, enfim, quando quero
algo, falo, quando não quero, falo do mesmo jeito sejam lá quais forem as
consequências.
Posso afirmar
com toda a certeza que mesmo quando começamos a sair, deixei muito claro que
não tinha a ver contigo, eu não conseguia planejar um futuro a dois, que só
consigo viver no presente e o futuro me assusta sobre tudo no mundo. Falei
sobre não conseguir ver o outro como objeto e prendê-lo, que não sabia o que
era sentir ciúmes (algo que nem eu sei como explicar). Até ao falar sobre amor,
te disse que eu falo mesmo a todos que amo sem o menor problema por medo de me
arrepender e não ter mais o momento em que pudesse fazer isso e já naquele
momento ficou claro que não entendeste o que eu entendo por amor, mas quem
disse que isso é fácil de explicar? Pra mim, se importar e querer bem às
pessoas que estão próximas a mim é sim amar. No que diz respeito ao
relacionamento a dois, feliz ou infelizmente, sou mais realista e pessimista do
que gostaria, não me iludo, não consigo planejar casamento e coisinhas melosas
e, obviamente, nisso, sempre fomos completamente diferentes.
O que eu entendi
há muito tempo e também falei em várias ocasiões é que a fase do impulso, da
lua-de-mel passou pra nós como passa em todo relacionamento e nós não seríamos
exceção, o que não impediu que continuássemos aproveitando a companhia um do
outro e não mudou em nada minha perspectiva de continuar vivendo o presente, me
importando contigo e te querendo por perto sem que isso me prendesse ou me
impedisse de continuar a minha vida como sempre. Mas aí, de novo, te ouço falar
em um lado amar mais, amar pelos dois e, de novo, lá vou eu tentar entender de
onde saiu isso (e me vem à mente tu dizendo pra eu parar de tentar entender as
coisas, pra ser menos antropóloga, mas me desculpe, é automático, eu diria que
é parte de mim).
Pela
convivência, ouvindo tuas histórias, compreendi que tu constróis os teus
moinhos de vento. Tu te aproximas de alguém, te apaixona loucamente, planeja
mundos e fundos até passar a fase do impulso, quando a adrenalina começa a
diminuir, então tu desistes ou o outro lado desiste primeiro e vai cada um pro
seu lado até que aparece outra e outra e outra e outra... E o ciclo quixotesco continua.
Se tu gostas de viver esse ciclo infinitamente, bom, é uma escolha tua e eu respeito,
mas esse nunca foi o meu modo de viver nem de ver as coisas. Eu quero o agora,
eu vivo o agora e talvez da pior forma possível, mas é a minha forma de viver.
Não quero pensar no depois, assim como também não vivo de passado. Ademais, minha
memória não é só péssima, também não gosto de ficar lamentando pretéritos.
Agora, sejamos
honestos, quando te impedi de sair com outra pessoa (lembro de até ter te
ajudado em algumas situações, inclusive)? Quando te prendi ou te impus algo de
qualquer forma? Sempre foste livre, não é verdade? Até pra se afastar. Tiveste
toda a liberdade que se pode ter, aliás, eu propus não termos mais contato em
um dado momento, depois me arrependi porque achei desnecessário e não vejo o
menor problema em admitir. Não andamos pelos mesmos lugares, não ando por aí
pra te encontrar “por acaso”, nada nos prende a não ser, novamente, os bons
momentos que eu pensei (talvez aí eu tenha me equivocado) que ainda
compartilhássemos.
Às vezes, penso
que querias que eu agisse assim, que te prendesse, que andasse atrás de ti, que
me consumisse em ciúmes, exigisse excessivamente algum comportamento dito adequado,
tentasse te “corrigir” ou te mudar ao meu modo e reclamasse de qualquer coisa
ou qualquer pessoa pra te irritar, percebo ainda mais que o fato de te aceitar
como és, nunca ter cobrado nada e ser indiferente a várias coisas que são
fundamentais pra outras pessoas acaba sendo um incômodo porque não sabes como
agir com alguém como eu e fica mais fácil dizer que eu amo mais, que amo pelos
dois ou amo sozinha, algo que deve ser triste, no mínimo, pra conviver. Quer
dizer, eu não sei se fica mais fácil pra justificar pra ti mesmo ou, se apesar
de toda a franqueza, foi a única coisa que conseguiste interpretar disso tudo,
o que é muito decepcionante vindo de ti.
Outra coisa, já
falei isso, mas acho que preciso falar mais uma vez: não preciso dizer nem
provar nada pra ninguém, tirar fotos contigo e postar em redes sociais, não
preciso andar de mãos dadas por aí contigo pra mostrar alguma coisa. Fiquei foi
em dúvida: será que tu querias que eu quisesse isso também? O grande problema é
esse, eu não sei, tu não falas e eu fico tentando entender a partir do que tu
escreves e envias pra outros.
Ainda mais do
dito que acho necessário ser repetido, me importo contigo, gosto dos momentos
que compartilhamos juntos e acredito que nos fazemos bem, quanto a isso, nunca
soube nomenclaturar pra quem quer que fosse, mas precisa? Desculpe a frieza,
mas acreditei em uma relação de troca em que ambos se beneficiam (bem grosso
modo), que envolve em algum nível “bem-gostar, querer e bem-querer” sem o tão
romantizado feitos um para o outro até que a morte nos separe e me incomoda
imensamente esse “reducionismo do amor” que me coloca em uma posição
inacessível, sob uma métrica obscura de sentimentos, que indica pena, que pede
que se sinta pena da pobre criatura incompreendida e irremediavelmente iludida
e ainda pior, que nos prende um ao outro de uma forma ruim (não encontrei
adjetivo melhor).
Se por eu não
conseguir entrar nesses padrões subjetivos de amor é incômodo pra ti, novamente
me desculpe, mas eu sinceramente não sei o que se possa fazer. Aparentemente,
tu ainda continuas dissuadido num sonho romântico a meu respeito e ao que sinto
sei lá por qual motivo nesses quase dois anos que se vão. Talvez porque te
coloque num nível hierárquico superior ao meu, menos humano e mais ideal pra
ti, ou, talvez, simplesmente, porque fique mais bonito pra escrita do poeta,
mas a realidade é dura, clara e não dá pra disfarçar com palavras bonitas, não
a meu ver.
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