De tanto te pensar, me veio a ilusão.A mesma ilusão
De nunca te tocar
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando sou nada: égua fantasmagórica
De tanto te pensar, me veio a ilusão.
Agora que o silêncio é um mar sem ondas, 
Que me importa ouvir o que os outros dizem de ti, se eu sei que amanhã o teu sorriso vai florescer pra mim novamente. Que me importa o que dizem, se mesmo sabendo que é tudo verdade, tu sempre retorna pros meus braços. Que falem, pouco me importa. Que me chamem de tola ou coisa pior. Competir tem sua graça, eu sei bem.
        Eu acho que devia entrar no lago, mas não posso. Eu ainda não estou pronta. Oh, que desespero! Esse coração que nada acalma. Em tudo que eu quis ser, eu sou só a metade. Nem amar eu posso. É tudo vaidade. Eu ouço o que você me diz, não estou surda, tenho ouvidos, mas o que é que isso quer dizer? Pode ser que eu esteja dormindo e que ninguém vá me acordar, e pode ser que eu seja dessas que fazem um mal negócio, só para ter um teto em cima da cabeça. E pode ser que eu engane a mim mesma e feche os olhos.
Tempo coagulado, um dia fui descanso e pastoreio. Um dia
"Que este amor não me cegue nem me siga.
Meus pensamentos já não me pertencem – Pertenceram-me algum dia por acaso? – Eles voam numa única direção, mas se esbarram estabanadamente na primeira barreira estática ou fluida. Não se entendem. São borboletas que rompem o casulo mais rápidas que a luz num descompasso frenético, não posso acompanhá-las, não posso controlá-las. Elas querem apenas tocar uma mente por hora tão distante e dispersa. Querem apenas chegar até o ponto desejado.
Não é que a história de recitar o poema deu certo. Eu até quis fazer performance, mas fiquei morrendo de vergonha, mesmo assim foi bem legal. Uma entonaçãozinha na voz e pronto, sem contar que com as atuais turbulências na minha vida emotiva, inspiração não faltou.
Paris at night 
(Jacques Prévert)
Trois allumettes une à une dan la nuit
la première pour voir ton visage tout entier
la seconde por voir tes yeux
la dernière pour voir ta bouche
Et l'obscurité tout entiere pour me rappeler tout cela
en te serrante dan mes bras 
 "...Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. Grave e metódica ate à mania, atenta a todas as subtilezas dum raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto, de ser uma espécie de D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dar de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa!"
 "Sou poeta.  É justamente por isto que sou interessante”.
(Maiakovski, Eu mesmo).
A FLAUTA VERTEBRADA
A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
O QUE ACONTECEU 
Mais do que é permitido,
mais do que é preciso,
como um delírio de poeta
sobrecarregando o sonho:
a pelota do coração tornou-se enorme,
enorme o amor,
enorme o ódio.
Sob o fardo,
as pernas vão vacilantes.
Tu o sabes,
sou bem fornido,
entretanto me arrasto,
apêndice do coração,
vergando as espáduas gigantes.
Encho-me dum leite de versos
e, sem poder transbordas,
encho-me mais e mais.
IMPOSSÍVEL
Sozinho não posso
carregar um piano
e menos ainda um cofre-forte.
Como poderia então
retomar de ti meu coração
e carregá-lo de volta?
Os banqueiros dizem com razão:
"Quando nos faltam bolsos,
nós que somos muitíssimo ricos,
guardamos o dinheiro no banco".
Em ti
depositei meu amor,
tesouro encerrado em caixa de ferro,
e ando por aí
como um Creso contente.
É natural, pois,
quando me dá vontade,
que eu retire um sorriso,
a metade de um sorriso
ou menos até
e indo com as donas
eu gaste depois da meia-noite
uns quantos rublos de lirismo à toa.
ESCÁRNIOS
Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo de matizes,
entregarei a alma ao poder do enxame das rimas imprevistas.
Ânsia de ouvir de novo como me calarão das colunas das revistas
esses que sob a árvore nutriz escavam com seus focinhos as raízes.
Tenho um artigo e pretendo publicá-lo, por isso, gostaria de saber se a revista aceita publicar artigo apesar de eu ser ainda graduanda. 
TU
Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
e simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.
E todas,
como se vissem um milagre,
senhoras e senhorias exclamaram:
- A esse amá-lo?
Se se atira em cima,
derruba a gente!
Ela, com certeza, é domadora!
Por certo, saiu duma jaula!
E eu júbilo
esqueci o julgo.
Louco de alegria
saltava
como em casamento de índio,
tão leve, tão bem me sentia.
(traduções: Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)
Faz tanto tempo que não posto nada... Quase que perdi o costume.