segunda-feira, setembro 25, 2017

Coração de criança


I will love you until the end of times
I would wait a million years
Promisse you'll remmember that you're mine
Baby, can you see through the tears?
Love you more than those bitches before
Say you'll remember
Say you'll remember
I will love you until the end of times 
(Blue jeans, Lana Del Rey)

Um dia, ele me disse que se lhe desse minha mão, me levaria a um lugar cheio de sombras e luz. Eu arrisquei e me coloquei completamente em suas mãos, apesar de todos os medos, de todas as dores, apesar de todos os pesares. Todas as vezes que me ressentia, ou corava, ele tocava suavemente meu rosto e me dizia que não precisava me envergonhar; enxugava minhas lágrimas, me abraçava e não permitia que me soltasse nem por um minuto.
No rol dos super-heróis que tanto admira, me mostrou que era o melhor, porque não é artificial, midiático ou politicamente correto, na verdade, suas imperfeições fazem parte dos seus super poderes, são sua maior força e sua maior fraqueza, mas também o que mais subestima, pra mim, a parte mais apaixonante. Aquela parte que é só dele, tão singular, quanto irresistível.
Religiosamente profano, profanamente sagrado, traz em si todas as dores dos julgamentos ultrajantes a que foi exposto e vocifera espinhos mesmo sabendo de sua luta vã, pois como todos de seu clã se vê destinado à derrota e, infelizmente, a aceita. Não sem combate e dor, mas aceita.
Ao me arriscar, não sabia o que enfrentaria, conhecia apenas o leitor, o poeta, o literato, tudo o que pode ser encantador em um homem. Pela proximidade, vi muito mais e me atraí por sua dor, tão parecida com a minha. Ele me disse que sairiamos daquela juntos de alguma forma. O que poderia ser melhor?
De repente, me tornei humana, deixei de ser musa, apenas mais uma deusa decaída e tão rápido como surgiu, resolveu desaparecer. Para alguns erros não há perdão. Cada ato, cada palavra passou a ser julgada e despoticamente condenada. Como se não fosse bastante, algo pior ainda aconteceu, fui condenada pelos erros de outros. Meu amante, meu juiz, meu carrasco. Me tornei uma doença tão contagiosa, que minha simples presença passou a ser incômoda. 
Tentei contornar, mas qualquer coisa que dizia parecia desespero. Sei o que é estar cega pela dor e pelo medo e por isso juntei toda a compreensão que pode haver em mim, mas não me parece lógico matar um sentimento por segurança, porque não há lógica no amor. É impossível prever as consequências por mais pessimistas que sejamos.
Será mesmo mais seguro sofrer só? Por mais que eu procure respostas pra isso, ter um suporte ainda é um risco mais razoável e se afastar é obviamente uma autodefesa injustificável dadas as circunstâncias. 
Nesse beco sem saída, meus pensamentos voam sem direção. Se não posso ter controle sobre mim, quanto mais sobre ele aparentemente tão decidido. Ele está presente todos os dias, em todos os lugares em que vou, na minha casa, dentro de mim deixou raízes profundas e tudo que pedi foi pra que continuássemos o caminho que começamos, pra que não largasse minha mão. Somos tão diferentes quanto iguais e talvez isso nos fortaleça. Posso esperar o tempo que precisa pra si mesmo, mas será que segurará a minha mão?

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