terça-feira, setembro 26, 2017

Um novo desafio

Quando era adolescente, lá pelos 16, 17 anos, não me lembro ao certo, resolvi que queria mudar, queria fazer algo que fosse diferente e difícil pra mim. Uma das resoluções foi parar de roer as unhas. Não pelas críticas, isso nem me passava pela cabeça, ainda tinha a ânsia da adolescência rebelde, não sentia, de fato, o peso da opinião alheia, embora sofresse constantemente com elas. Nessa idade, se acredita saber de muita coisa, mas o tempo é quem mostra que não conseguimos mensurar as consequências reais das atitudes tomadas. 
O fato é que pode parecer tolo, mas só quem tem um vício como esses sabe como é penoso. Anos de um costume aparentemente inofensivo, nojento pra alguns, doloroso pra outros, já que frequentemente meus dedos sangravam de tão fundo que iam as mordidas, porque nem as peles ficavam. 
Realmente havia tentado todos os métodos prescritos. Esmaltes com gostos nojentos, apimentados, luvas ao dormir, foram tantas e incontáveis as tentativas, todas frustradas, o hábito persistia ainda durante o sono tão forte era a resistência, parecia mesmo algo incontrolável com o qual deveria me acostumar.
Das poucas lembranças que tenho na vida, esta é muito clara, o dia em que resolvi não roer mais as unhas e como num passe de mágica, parei. A necessidade, a compulsão extraordinária cessou simplesmente porque resolvi parar nunca mais voltou. Não estou dizendo que não voltei a roê-las, a questão é conseguir lutar contra mim mesma e tornar o impossível possível.
Eu não sou mais a mesma menina cheia de vida, aliás, sinto que morro a cada dia devido a minhas péssimas escolhas, adquiri outros hábitos monstruosos e é contra eles que me desafiei agora. Joguei a lâmina fora e apesar de não a usar há alguns dias, me parecia seguro tê-la ali, saber que poderia contar com ela se precisasse, isso por si só já pressupõe intenção, então, preciso fugir. 
Não posso mais viver de alívios momentâneos, preciso de sentimentos mais seguros. Nada nesse mundo é perpétuo e duradouro, sei bem, mas ficar na minha zona de conforto só me traz mais do mesmo e agora quero mais, preciso de mais. Estagnada, vou me quebrar, seguindo em frente, vou me quebrar. Então, resolvi abandonar meus vícios, continuar quebrada, em outra forma.  

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