quinta-feira, novembro 19, 2009

Benedito Nunes: olhares sobre o poético

Há quanto tempo não tinha um dia tão ma-ra-vi-lho-so! Hoje foi o dito dia da homenagem ao professor Benedito Nunes que tanto planejamos e esperavamos no mestrado. Além da aula que ele deu ao analisar 2 poemas do Mário Faustino, pude ouvi-lo falar sobre o meu amado Haroldinho, do qual foi um grande amigo. Toda a participação dele no Suplemento da Folha do Norte e de toda a geração dos Novos, das idéias que posteriormente se modificaram quanto ao modernismo e seus poetas, este homem é uma memória histórica viva. A respeito da importância do Haroldo, minha pergunta, quanto esclarecimento! Sempre soube que o papel dele pra formação de leitores aqui em Belém é gigantesca por conta do suplemento, hoje descobri que ele também pode proporcionar os livros que por aí circulam com o sellinho da livraria Dom Quixote, que pertencia ao meu amado (informação do tio Bené que eu não sabia).
Além disso, há quanto tempo não tinha mais esse contato tão gostoso com a poesia: ler, recitar, ouvir. Tudo de bom. Quase enlouqueci com o trabalho e mesmo dando aula de literatura, as frustrações já eram tantas que a leitura dos poemas estava sendo quase automática, só não perdi o amor porque de fato literatura é minha vida, mas estava me sentindo sufocada. Acordava me sentindo obrigada, contava os minutos pra que as aulas acabassem, sem contar que já não tinha mais vida social, porque o tempo livre que tinha era pra elaborar aula, reler leitura obrigatória, fazer na doida os trabalhos do mestrado e dormir, em último plano, pra descansar. Como minha nova situação faz diferença, poder viver pra estudar é tudo.
Qualquer um percebe a mudança gigantesca tão aparente que parece exalar de mim. Talvez a gente de fato reflita a felicidade, porque por incrível que pareça até emagreci, mesmo comendo como uma louca como estou e, é claro, meu humor mudou totalmente. É até engraçado dizer isso, pode parecer tolice, mas nunca estive tão apaixonada por mim e pela minha vida. Bom, deixando isso um pouco pra lá, coloco aqui dois dos poemas que li no sarau e posteriormente publico os outros que discutimos por lá.

Canção

(Cecilia Meireles)

No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto

Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.

Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.

E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.

Envoi
(Mario Faustino)

Vai, meu canto,
Dizer a que te escute desta dor
Severa como as coisas longevivas
Prometem ser, troféus de heróis do olvido;
Vai dizer-lhes
Da dança que dançamos, rito ardente,
E do barro fiel donde extraímos vida
Mais casta que as idéias passageiras,
ornatos da tormenta...
E dize-lhes do eterno,
Do rubro que inda jaz sobre os mosaicos
Onde o dourado é morto...

Vai, meu canto, Eu te sigo em segredo, por bizarros ouvidos:
Como um rei que mandou seu segrel para a guerra
E o vê partir de longe, do alto das seteiras...

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