segunda-feira, novembro 30, 2009

Relendo o que escrevi ontem em meu momento nostalgia, lembrei imediatamente de um poema do Mário Faustino, poeta que tenho aprendido a gostar, que conhecia só de nome e passei a ler por ser leitura do vestibular e também pelas aulas com a professora Lília, uma das maiores estudiosas desse poeta. Foi uma bela descoberta, devo admitir, enquanto leitores acabamos gostando daquilo com que nos identificamos, seja pela temática, seja pelo trabalho com a linguagem, para quem aprecia a questão estética e outras questões.   

Juventude, o poema a que me refiro, é encantador desde a construção, a brincadeira com as palavras derivadas de mar passeando pelo auge, no início “a jusante a maré entrega tudo”, até o término, “a montante a maré apaga tudo”. Mais que isso, a fascinante continuidade na descontinuidade e o movimento ondulatório do poema, como diz Benedito Nunes, nos prende em suas delicadas variações. Percorrê-lo é ver a juventude esvair-se por entre ele, como a sensação que tive ao escrever aquelas linhas, claro que eu muito mais irrequieta e inconformada. Enfim, não vou me prolongar hoje, transcrevo aqui o belissimo fragmento de que falei até então.


...

Juventude —

a jusante a maré entrega tudo —

 

maravilha do vento soprando sobre a maravilha

de estar vivo e capaz de sentir

maravilhas no vento —

amar a ilha, amar o vento, amar o sopro, o rasto

maravilha de estar ensimesmado

(a maravilha: vivo!),

tragado pelo vento, recomposto

nos pósteros do tempo, assassinado

na pletora do vento

maravilha de ser capaz,

maravilha de estar a postos,

maravilha de em paz sentir

maravilhas no vento

e pascentar o vento,

encapelado vento —

mar à vista da ilha,

eternidade à vista

do tempo —

o tempo: sempre o sopro

etéreo sobre os pagos, sobre as régias do vento,

do montuoso vento —

e a terna idade amarga — juventude —

êxtase ao vivo, erguer-se o vento lívido

vento salgado, paz de sentinela

maravulhada à vista

de si mesma nas algas

do tumultuoso vento,

de seus restos na mágoa

do tumulário tempo,

de seu pranto nas águas do mar justo —

maravilha de estar assimilado

pelo vento repleto

e pelo mar completo — juventude

a montante a maré apaga tudo —

...   


Um comentário:

nutricionista.patriciamagurno disse...

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