sexta-feira, dezembro 18, 2009

Hoje foi um dia daqueles, fui dormir às 4 e tive de levantar às seis por conta de mais um artigo que deveria ser entregue. Ainda tenho dificuldade em fazer análise como deve ser feita e como disse à professora, sempre trabalhei com prosa, porque embora adore ler poemas, o medo de fazer uma análise atingindo apenas a superfície é gigantesca. E o pior é que o poema escolhido é do Manoel de Barros, imagina, tomei chá de cadeira em frente ao computador até que as primeiras ideias começassem a se descotinar e ainda assim achei que poderia ter feito melhor.

Claro que só poderia ter ficado destruída hoje, já sabia que ficaria sonolenta na aula, mas ao contrário do que eu pensei até que aguentei bem, apesar de tudo a poesia ainda me hipnotiza. Mas o ponto alto do meu dia foi o final da aula. A professora distribuiu alguns poemas entre nós, mas antes de distribuí-los ela lia um a um. Eu praticamente recitava junto com ela, depois de quase 6 anos em sala de aula e de muita leitura os poemas saem automaticamente. 

Nenhum veio direto à minha mão, todos se identificavam com os belissimos poemas selecionados e ela ia apontando as folhas principalmente pras meninas nas cadeiras da frente, poemas de amor sempre parecem ser mais femininos mesmo. Até que ela começou a ler um que eu não conhecia, ela leu apenas os primeiros versos e apontou a folha diretamente pra mim, talvez simples coincidência, ou talvez os olhos de um poeta decifrem as almas de meros mortais como eu, e quando vi aqueles belos olhos verdes com a folha à minha frente, fiquei sem reação, aqueles versos foram violentamente lançados sobre mim, apesar da voz meiga que os recitava.

Fiquei refletindo, por que pra mim? Será que foi o meu silêncio? Será minha reação? Não tinha um espelho pra ver minha expressão, mas imagino que tenha sido algo que gritasse embora eu estivesse estática, porque ela estava praticamente de costas e me olhou como se conversasse com os meus olhos, os lesse e entendesse como aquelas poucas palavras violaram meus ouvidos e me estremeceram. É um daqueles textos que expressam melhor o que eu sinto do que se fossem escritos por mim. Depois de tudo a calma finalmente se estabeleceu e é assim que pretendo continuar, mesmo assim, não posso simplesmente apagar tudo e esse poema reflete de maneira magistral as palavras que engulo e as sensações que agora me acalentam. Seria a declaração perfeita ao meu amante (?).

 


Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentado

Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...

É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta, muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

(Vinícius de Moraes)


Nenhum comentário: